Folha de S.Paulo

CRÍTICA Jovens promissora­s dão brilho a ‘Verão 1993’

Carla Simón, 31, volta à sua própria infância em primeiro longa, no qual dirige com cuidado talentosa Laia Artigas

- NAIEF HADDAD

“A família é um enigma”, disse a diretora espanhola Carla Simón sobre seu filme, “Verão 1993”, que chega agora ao circuito brasileiro.

“A família”, prosseguiu ela, “é uma constante fonte de inspiração porque são relações que você não escolhe e que tem que se esforçar para entender”.

Custa acreditar que “Verão 1993” seja o primeiro longametra­gem de Simón, 31, tamanha a segurança narrativa apresentad­a pela cineasta, assim como o seu talento para a direção de atores.

Uma hipótese para estreia tão bem-sucedida é de que Simón, também responsáve­l pelo roteiro, tinha clareza incomum sobre a história que pretendia contar. “Verão 1993”, afinal, diz respeito a sua própria infância e suas relações familiares.

Anos depois da morte do pai, Frida (Laia Artigas), de seis anos, perde a mãe, ambos vítimas de Aids.

A menina deixa, então, a cidade de Barcelona para morar em um sítio no interior da Catalunha com os tios, Esteve (David Verdaguer) e Marga (Bruna Cursí), e uma prima mais nova, Anna (Paula Robles), de quatro anos.

Tomada por tristeza e perplexida­de, Frida não sabe como reagir à nova disposição familiar. E quem saberia?

Tampouco os tios convertido­s em pais estão preparados para recebê-la, embora pareçam bem-intenciona­dos. O arranjo afetivo, afinal, se revela mais complexo do que o casal pressupõe.

Um filme que aborda a infância e a morte sempre enfrenta o risco de afundar no sentimenta­lismo. “Verão 1993”, porém, consegue escapar da armadilha.

Os acertos começam por uma aposta firme nas imagens. Os diálogos dizem muito, mas as imagens dizem mais. Tensões se revelam sob o silêncio da natureza exuberante do verão da Catalunha, cenário das brincadeir­as das meninas Frida e Anna.

Não se pode, contudo, mencionar a força expressiva do filme sem citar a presença das crianças.

A diretora e sua equipe souberam como deixá-las à vontade, especialme­nte no caso de Laia Artigas.

Mas pouco adiantaria essa condução cuidadosa se a protagonis­ta não fosse um talento extraordin­ário.

Durante grande parte do filme, a câmera está muito próxima da menina, cujos olhares alternam arrebatame­nto, melancolia, medo, curiosidad­e.

Se “Verão 1993” acumula prêmios na Europa, como o de melhor primeiro filme no Festival de Berlim, os méritos são sobretudo da diretora Carla Simón e da atriz mirim Laia Artigas, duas espanholas de futuro promissor. DIREÇÃO Carla Simón COM Laia Artigas, Paula Robles, Bruna Cusí, David Verdaguer PRODUÇÃO Espanha, 2017, 97 min CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO muito bom

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