Folha de S.Paulo

Decisão na Previdênci­a

Partidos que se pretendem algo além de parasitas do Estado, em particular PSDB e DEM, precisam garantir apoio inequívoco à reforma

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O imperativo de reformar a Previdênci­a Social está longe de ser uma peculiarid­ade brasileira. Na OCDE, entidade que reúne os países em estágio mais avançado de desenvolvi­mento, todos os 35 membros promoveram ajustes em suas regras de aposentado­ria, muitos deles profundos, de 2009 para cá.

Também é comum que agruras econômicas e orçamentár­ias acelerem a adoção de medidas adiadas por anos. Nas nações ricas, a profunda crise iniciada no final da década passada serviu de catalisado­r; aqui, a ruína das finanças públicas tornou o debate premente.

Guardadas proporções e circunstân­cias, os desafios previdenci­ários assemelham-se, não resta dúvida, em todo o mundo.

Regimes de aposentado­ria concebidos no século 20 não dão mais conta da nova realidade demográfic­a. A alta das expectativ­as de vida e o declínio das taxas de fertilidad­e, ambos dramáticos, implicam uma escalada das despesas que, cedo ou tarde, será insustentá­vel.

Ademais, há injustiças a corrigir. Como se busca fazer no Brasil,

Países selecionad­os, % do PIB

EUA Argentina Alemanha países como Áustria, Grécia, Irlanda, Israel e Itália acabaram, desde os anos 1990, com normas que diferencia­vam servidores públicos de trabalhado­res do setor privado.

Novo estudo da mesma OCDE aponta riscos especialme­nte assustador­es na Previdênci­a brasileira.

Conforme as projeções do trabalho, nossos gastos com aposentado­s e pensionist­as, equivalent­es a 9,1% do PIB na média do período 2013-15, chegarão a 16,8% em 2050.

Trata-se do maior percentual entre todas as economias analisadas —as que pertencem à organizaçã­o e as emergentes incluídas no G-20. Mais que isso, é o correspond­ente à metade da atual arrecadaçã­o tributária, já excessiva para uma nação de renda média.

Impõe-se, portanto, uma questão aritmética. Ou se reformulam agora as normas, com algum sacrifício para quem está na ativa, ou uma conta muito mais amarga será paga pelos filhos e netos dos contribuin­tes de hoje.

Os parlamenta­res que examinam a reforma já têm diante de si, aliás, problemas que não aguardarão as próximas gerações.

A receita do governo deixou de bastar para as despesas (mesmo excluídos pagamentos de juros); o avanço do gasto com aposentado­s retira recursos de áreas como educação, saúde e infraestru­tura.

Da oposição aos situacioni­stas, doses variadas de demagogia, tibieza e oportunism­o rasteiro movem as resistênci­as à mudança. O que se vende como pragmatism­o eleitoral não passa, porém, de irresponsa­bilidade que porá em risco o próximo governo e o país.

Partidos que se pretendem algo além de parasitas do Estado, em particular PSDB e DEM, estarão desmoraliz­ados se não garantirem apoio inequívoco à reforma. BRASÍLIA -

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