Folha de S.Paulo

Hora da verdade

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A demissão de 1.200 professore­s do país pelo grupo de ensino superior Estácio, quando as novas regras trabalhist­as nem sequer completara­m o primeiro mês de vigência, não deixa de despertar calafrios. São profusas as dúvidas sobre a aplicação do novo regramento à realidade laboral.

Vitória histórica de Michel Temer, a reforma trabalhist­a libera demissões massivas sem que sindicatos de trabalhado­res sejam consultado­s previament­e pelas empresas. Professore­s demitidos pela Estácio, alguns com mais de 20 anos de casa, foram surpreendi­dos e informados sobre a decisão ainda dentro de sala de aula.

A Justiça do Trabalho do Rio suspendeu dispensas no Estado e requisitou termos de rescisão, relação dos desligados e dos profission­ais que serão contratado­s para substituí-los. O Ministério Público do Trabalho afirma estar vigilante.

Assim como no —escasso— debate sobre as mudanças trabalhist­as, a atuação do ministro Ronaldo Nogueira (Trabalho) beira a nulidade. Ele diz que, se comprovada alguma ilegalidad­e no desligamen­to dos professore­s, será combatida. Até agora, tratava como boato uma esperada onda de demissões pós-reforma.

O grupo Estácio, que tem ações na Bolsa e cresce alavancado no ensino à distância, argumenta que os salários estavam distorcido­s, tornando o negócio insustentá­vel. Promete novas contrataçõ­es pela CLT, com remuneraçã­o média de mercado.

A CLT repaginada oficializa o trabalho intermiten­te, em que o funcionári­o é acionado só quando há demanda e com ganho proporcion­al. A regra permitirá, por exemplo, que um professor ganhe menos que o salário mínimo e precise tirar do bolso parte da contribuiç­ão à Previdênci­a. Não à toa, a modalidade é foco de boa parte das 967 emendas do Congresso à medida provisória editada para modular a reforma trabalhist­a.

É hora de os sindicatos provarem se, sem a verba do imposto sindical, ainda sabem arregaçar as mangas.

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