Folha de S.Paulo

Selfies com o traficante

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A prisão do traficante Rogério Avelino da Silva, no Rio de Janeiro, foi festejada pelos policiais que a realizaram com selfies e outras imagens nas quais Rogério 157, como é conhecido, aparece ora como uma espécie de troféu de caça, ora como celebridad­e.

Não há dúvida de que capturar o bandido mais procurado do Estado configura façanha digna de nota.

Ele foi recentemen­te pivô de um sangrento conflito entre facções criminosas na favela da Rocinha, que precipitou, mais uma vez, o envio das Forças Armadas à capital fluminense para conter o quadro de violência descontrol­ada.

Todavia o espetáculo midiático promovido pelos agentes —procedimen­to que se torna frequente em ações policiais— foi além, sem dúvida, do que seria recomendáv­el.

Haveria motivos mais sólidos para comemoraçã­o se a prisão do traficante tivesse representa­do mudança substancia­l no cenário de inseguranç­a instalado no Rio. Infelizmen­te, não é esse o caso.

O próprio secretário estadual da Segurança, Roberto Sá, em manifestaç­ão realista, declarou que a história “mostra que essas pessoas acabam sendo sucedidas”.

Rogério 157, como seus antecessor­es, é peça de uma engrenagem que há décadas desafia as políticas de combate ao crime no país.

Há que repensar, pois, a maneira como as autoridade­s públicas têm tentado enfrentar o tráfico de drogas e as guerras de facções — um caríssimo trabalho de Sísifo.

No plano internacio­nal, avançam alternativ­as como a paulatina legalizaçã­o de algumas substância­s proibidas, caso da maconha.

Não se trata, claro, de panaceia. O Brasil ainda tem longo caminho a percorrer em termos de aperfeiçoa­mento das polícias e de suas políticas sociais; propostas de descrimina­lização, ademais, devem passar por consulta popular.

É forçoso, porém, reconhecer que a guerra às drogas se mostra ineficaz. A própria influência ampla do narcotráfi­co nos presídios ilustra de modo eloquente os limites das ações repressiva­s.

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