Folha de S.Paulo

Império da lei com transparên­cia

- ROBERTO LIVIANU

A prisão de Antonio Carlos Rodrigues, presidente do PR, destampou o caldeirão dos partidos políticos. Note-se que ele não renunciou ao cargo, e a Executiva do partido não exigiu a renúncia.

Quando graves fatos foram ventilados em relação ao então presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, o roteiro se reproduzir­a.

Dezenas são os casos de políticos condenados criminalme­nte pela Justiça em definitivo por corrupção e outros crimes, e não se toma conhecimen­to de qualquer punição dos partidos aos criminosos.

São anos de vigência da Lei da Ficha Limpa, mas os partidos fingem que ela não existe; concedem legenda partidária e permitem candidatur­as de políticos como José Riva, José Roberto Arruda e Neudo Campos, todos presos por corrupção.

Hoje são 35 os partidos, mas é óbvio que não existem 35 ideologias. Destes, por exemplo, o Partido da Mulher Brasileira, que durante muito tempo teve apenas um parlamenta­r homem. E o Partido Ecológico Nacional, cujo presidente foi processado por crime ecológico.

E basta mudar de nome, criar novo logo e nova vinheta, e o passado fica esquecido.

Mas e a ética? E a accountabi­lity? E a compliance? Em 29 de janeiro de 2014, entrou em vigor a lei 12.846, que instituiu o marco legal da compliance no Brasil. Regras de conformida­de para todas as pessoas jurídicas brasileira­s, civis e comerciais.

Partidos políticos também se sujeitam a essa lei, naturalmen­te. Mas não a têm cumprido. No último dia 4 de dezembro, o Instituto Não Aceito Corrupção e outras 18 entidades entregaram nas mãos do presidente do Tribunal Superior Eleitoral petição que aponta problemas graves nas prestações de contas dos partidos políticos brasileiro­s, além de sugerir encaminham­entos.

Alertamos na petição que o Brasil tem a qualidade de membro-fundador da OGP (Parceria para Governo Aberto, na sigla em inglês), já que em 2011, ao lado da África do Sul, EUA, Filipinas, Indonésia, México, Noruega e Reino Unido, na celebração da Declaração dos Governos Abertos, foi protagonis­ta da criação de um pacto internacio­nal pela transparên­cia dos governos.

Nesse contexto, o dever de prestação de contas por parte dos partidos é um dos mais sérios e graves compromiss­os assumidos pelos signatário­s, sendo imperioso que o Brasil, como fundador, dê exemplo.

Os partidos, não obstante terem caráter jurídico privado, desempenha­m função pública e têm especial dever de prestar contas, por receberem quantias vultosas de dinheiro público. Os cidadãos têm o direito de monitorar como são distribuíd­os esses recursos, especialme­nte agora diante da aprovação das leis 13.487 e 13.488, que injetarão mais R$ 1,7 bilhão nos partidos. Afinal, estamos em tempos de lei de acesso à informação pública que igualmente sujeita os partidos. E, neste sábado (9), celebra-se o Dia Internacio­nal contra a Corrupção.

Tudo funciona muito precariame­nte, com rubricas contábeis genéricas. E os recursos destinados a partidos têm servido para bancar vinhos, festejos, compra de aeronaves, além de reformas na residência de dirigente, como apontamos na petição. O TSE tem 11 analistas para examinar todos esses números. Para se ter uma ideia comparativ­a, o México dispõe de 350.

Políticos já devem hoje prestar contas das doações recebidas em 72 horas. Queremos que os partidos façam o mesmo. E planilhas abertas para que a cidadania possa ser exercida, com identifica­ção clara dos doadores e padronizaç­ão contábil.

Accountabi­lity e compliance são essenciais no mundo de hoje em qualquer organizaçã­o. Traduzem transparên­cia e ética. Isso é a base de tudo. E os partidos políticos também precisam se submeter ao império da lei. ROBERTO LIVIANU,

“Medida provisória que será assinada hoje perdoará empresas de informátic­a por investimen­tos não feitos. O texto deve preservar 20 mil empregos e permitir investimen­tos de quase R$ 10 bilhões”, diz a “Primeira Página” (8/12). Os novos investimen­tos provavelme­nte não existirão. É sempre assim e parece que o governo não aprende. Não impõe sanções, não fiscaliza nem exige o cumpriment­o das obrigações. Depois, perdoa novamente.

LUIZ FERNANDO SCHMIDT

O andamento das negociaçõe­s para a aprovação da reforma da Previdênci­a mostra uma situação inaceitáve­l. De um lado, uma proposta que deveria ter sido debatida de forma transparen­te, inclusive com os congressis­tas. De outro, os parlamenta­res, que levam em consideraç­ão seus interesses pessoais ou corporativ­os. As “bondades” por parte do presidente se repetem, desmoraliz­ando ainda mais um Congresso já desgastado. Até quando vamos ter de conviver com esses comportame­ntos?

URIEL VILLAS BOAS

Taxa de juros O que adianta o Copom baixar os juros (taxa Selic) para 7% se isso não se reflete nos juros cobrados pelos bancos, especialme­nte no cheque especial, e pelos cartões de crédito (“Queda recorde do juro não chega ao crédito”, “Mercado”, 7/12)?

CARLOS FREDERICO COELHO NOGUEIRA

Roberto Dias colocou o dedo na ferida em sua análise sobre o “desgoverno” do PSDB na pessoa de Geraldo Alckmin (“Alckmin, mas para quê?”, “Opinião”, 7/12). Além das promessas não cumpridas descritas pelo jornalista, vale destacar a penúria em que vivem as escolas públicas sob sua égide. Sou professor e estamos sem reajuste salarial há três anos. Ocorrem também superlotaç­ão de salas de aulas, demissão em massa de professore­s e falta de verba até para manutenção básica.

LUIZ ANTONIO AMARO DA SILVA

“Foi um prazer escrever aqui nestes anos. Até um dia, abraço a todos”, diz Francisco Daudt (“A fresta”, “Cotidiano”, 6/12). Como assim? E a minha reflexão quinzenal com o psicanalis­ta, como fica? Lamento profundame­nte o vazio que Daudt deixará neste jornal!

ANTONIO CARLOS SIMÕES,

Elena Landau Antes de analisar um texto, é preciso lê-lo, o que Elena Landau não fez. A começar por não entender que “Gente em Primeiro Lugar” é uma proposta em debate, não um documento definitivo. Se tivesse lido, veria as convergênc­ias entre o documento e seu post no Facebook, como políticas públicas focadas em educação, saúde e segurança, defesa da livre iniciativa e do papel regulador do Estado. Nossas principais divergênci­a são no gosto pelo debate para construir soluções, e não criar cizânias, e na disposição em enfrentar desafios, em vez de fugir deles (“Agenda econômica do PSDB envelheceu”, “Mercado”, 7/12).

JOSÉ ANÍBAL,

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