Folha de S.Paulo

Moro pede que Petrobras pague por denúncias

Em evento na estatal, juiz disse que a empresa poderia dar incentivos a empregados que revelarem ilícitos

- NICOLA PAMPLONA

Para a defesa de Lula, presença de juiz na estatal comprova a imparciali­dade de Moro em seus julgamento­s

O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, sugeriu nesta sexta (8) que a Petrobras dê “incentivos financeiro­s” para empregados que denunciare­m atos ilícitos na empresa.

Moro participou, ao lado do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, de evento sobre governança corporativ­a na estatal, que figura em processos julgados pelos dois.

“Talvez um incentivo financeiro possa servir como estímulo”, disse Moro, enquanto citava algumas sugestões para que a estatal evite a repetição dos crimes investigad­os pela Lava Jato.

Ele comentou que, durante o “período de corrupção sistêmica na estatal”, havia sinais visíveis de superfatur­amento em obras que depois viraram alvo da Lava Jato, mas não houve denúncias.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou após o evento que vai estudar o assunto. Moro sugeriu ainda que os executivos da empresa sejam submetidos a avaliações periódicas de evolução patrimonia­l —não só com relação aos bens declarados, mas também com investigaç­ões sobre como vivem e que bens costumam ostentar.

Parente disse que a Petrobras passará a processar as declaraçõe­s de imposto de renda que são entregues por executivos e conselheir­os e vai passar também a fiscalizar em tempo real e-mails da companhia, com base em palavras chave.

Moro voltou a afirmar que o loteamento político foi a principal causa para o esquema de corrupção na Petrobras e defendeu que a empresa trabalhe para evitar que o mesmo volte a ocorrer no futuro.

“Chega de nomeações políticas”, afirmou, frisando não ver relação entre “a grande maioria” do corpo técnico da estatal e o esquema de corrupção composto por “empresário­s e políticos inescrupul­osos”. “Tenho muito claro para mim que a Petrobras não é sinônimo de corrupção”, afirmou. “Esse processo envergonho­u a todos nós, brasileiro­s, não só à Petrobras”.

Na quinta (7), em Curitiba, a Petrobras recebeu o ressarcime­nto de R$ 664 milhões desviados da companhia. Ao todo, R$ 1,47 bilhão já foi devolvido à empresa. DEFESA DE LULA O advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin, criticou a presença de Moro no evento da Petrobras. Para ele, o fato comprova a parcialida­de de Moro com relação ao julgamento de processos contra o ex-presidente.

“Não é aceitável que um juiz visite uma das partes de um processo. O juiz tem que manter distância em relação às partes”, afirmou, alegando que a estatal pediu para ser parte em processos ainda não julgados, como os que envolvem o apartament­o em Guarujá e o sítio em Atibaia.

Zanin afirmou ainda que as sugestões dadas por Moro em sua fala soam como “aconselham­ento” em relação a questões que fazem parte dos processos em julgamento.

“Esse fato de hoje, por si só, é suficiente para justificar uma situação de suspeição”, afirmou. “Penso que é o caso de uma nova providênci­a.”

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Gabriel de paiva/Agência O Globo Os juízes federais Marcelo Bretas, do Rio, e Sergio Moro, de Curitiba, participam de seminário na Petrobras nesta sexta

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