Folha de S.Paulo

Geddel tem 20% de prédio pelo qual fez lobby

Então ministro da Cultura, Calero disse ter sido pressionad­o por político para liberar construção em área de proteção

- JOÃO PEDRO PITOMBO CAMILA MATTOSO

A defesa do ex-ministro não respondeu, e o dono da empreiteir­a não atendeu às ligações da reportagem

O ex-ministro Geddel Vieira Lima e sua mãe, Marluce Vieira Lima, são donos de 20% do edifício La Vue, na Ladeira da Barra, em Salvador.

O edifício esteve no centro de polêmica no ano passado, revelada pela Folha, quando o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, afirmou ter sido pressionad­o por Geddel para liberar a construção do prédio, que precisava de um aval do Iphan, órgão federal responsáve­l pelar gestão do patrimônio histórico.

Na época, Geddel negou que fosse sócio do empreendim­ento e disse apenas ter comprado uma das unidades do edifício, cuja construção está embargada por decisão judicial desde novembro do ano passado.

Contratos obtidos pela Folha apontam que a empesa M&A Empreendim­entos, que tem como sócios Geddel e sua mãe, adquiriram 20% do empreendim­ento, pelo qual pagaram R$ 1,9 milhão.

O contrato foi assinado em 14 de novembro de 2014 por Geddel, sua mãe e o empreiteir­o Luiz Fernando Machado Costa Filho, dono da Cosbat. A sociedade foi confirmada por Costa Filho em depoimento tomado em meio às in- vestigaçõe­s do bunker de R$ 51 milhões, atribuído pela PF ao ex-ministro.

Além do La Vue, Geddel e sua mãe eram sócios de outros seis edifícios de luxo na capital baiana: Costa España, Riviera Ipiranga, Solar Ipiranga, Morro Ipiranga, Mansão Grazia e Garibaldi Tower. Todos os empreendim­entos são da Cosbat, mesma empreiteir­a responsáve­l pelo La Vue.

Em três desses edifícios de luxo (Morro Ipiranga, Mansão Grazia e Garibaldi Tower), também consta entre os sócios a empresa Vespasiano Empreendim­entos. A empresa tem como donos Marluce Vieira Lima, o deputado federal Lúcio Vieira Lima, além de sua mulher, Patrícia Coelho Vieira Lima.

Na quinta (7), o ministro Edson Fachin determinou a indisponib­ilidade de parte desses edifícios no valor de R$ 13 milhões, alegando indícios de lavagem de dinheiro. O valor é referente a repasses feitos pelas empresas de Lúcio e Geddel para os empreendim­entos da Cosbat.

Segundo o empreiteir­o Costa Filho, a empresa de Lúcio investiu entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão nos empreendim­entos, e a empresa de Geddel investiu, ao todo, R$ 10 milhões.

No caso dos aportes de Geddel, R$ 5 milhões foram pagos por meio de cheques e os outros R$ 5 milhões foram pagos em dinheiro. Machado Costa Filho ainda afirmou no depoimento que retirou os cheques e o dinheiro em espécie no apartament­o de Marluce Vieira Lima.

Em todos os contratos assinados pelos Vieira Lima com a Cosbat, constam como testemunha­s os secretário­s parlamenta­res Job Ribeiro Brandão e Milene Pena, ambos lotados no gabinete de Lúcio Vieira Lima.

A Folha revelou na quinta (7) que ambos, além do motorista Roberto Suzarte, davam expediente no apartament­o da mãe do deputado, muitas vezes prestando serviços particular­es à família.

A assinatura nos contratos foi apontada pela Polícia Federal como principal incongruên­cia do depoimento de Milene Pena. Ela afirmou desconhece­r os negócios imobiliári­os da família, mas sua assinatura consta em todos os contratos de sociedade entre os Vieira Lima e a Cosbat.

Geddel foi denunciado pela Procurador­ia do DF por improbidad­e administra­tiva no caso da polêmica.

As denúncias em torno da construção do edifício La Vue resultaram no pedido de demissão de Geddel da Secretaria de Governo em novembro do ano passado. Na época, a Folha revelou que um primo e um sobrinho do então ministro atuaram na defesa do empreendim­ento junto ao Iphan.

O prédio foi construído em um perímetro considerad­o crucial para proteção do patrimônio histórico da capital baiana, próximo a prédios tombados como o Forte de São Diogo, o outeiro e Igreja de Santo Antônio da Barra e o cemitério dos Ingleses. OUTRO LADO Procurado, o empreiteir­o Luiz Fernando Machado Costa Neto não atendeu às ligações da reportagem. O advogado de Geddel também não respondeu.

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Raul Spinassê/Folhapress Empreendim­ento La Vue na Ladeira da Barra, área nobre de Salvador, no qual Geddel e sua família têm 20% do capital

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