Folha de S.Paulo

Reino Unido cede à UE e destrava ‘brexit’

Theresa May aceita pagar até R$ 220 bilhões pelo ‘divórcio’ do bloco e se compromete a não erguer fronteira entre Irlandas

- DIOGO BERCITO

Governo britânico vai continuar contribuin­do para o orçamento da Europa; próxima etapa é fechar acordo comercial

União Europeia e Reino Unido entraram em acordo nesta sexta-feira (8) para avançar as negociaçõe­s sobre a saída britânica do bloco, após uma série de concessões da primeira-ministra Theresa May, incluindo a promessa de não levantar uma fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.

Com as propostas de May, o bloco econômico agora está disposto a discutir um acordo comercial para o dia em que o Reino Unido deixálo —a separação é chamada de “brexit” e está prevista para março de 2019.

Essa segunda etapa deve ser aprovada durante uma cúpula europeia a ser realizada no próximo dia 14 e começar de fato após fevereiro de 2018.

O anúncio do avanço nas negociaçõe­s foi feito no dia em que o prazo se esgotava, quando o governo britânico já segurava a respiração.

A primeira-ministra voou de madrugada para Bruxelas a fim de fazer o anúncio ao lado do líder da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. A Comissão é o braço executivo do bloco.

As negociaçõe­s de um acordo comercial são cruciais para a permanênci­a de May no cargo. Ela já perdeu a maioria parlamenta­r nas eleições deste ano e amarga índices crescentes de desaprovaç­ão, turbinados pela percepção de que não conseguiu nenhum avanço para o “brexit”.

Ao longo dos últimos meses, à mesa de conversas com a Europa, teve de abrir mão de quase todas as suas exigências. Para conseguir negociar o acordo comercial, May propôs uma série de concessões. Além da questão fronteiriç­a com a Irlanda, ela garantiu que os cidadãos europeus residentes no Reino Unido terão o direito de permanecer ali.

Seu governo também continuará a contribuir para o orçamento europeu em 2019 e 2020 e pagará a conta do divórcio, hoje estimada em algo entre R$ 170 bilhões e R$ 220 bilhões.

Os avanços de sexta-feira foram celebrados pelo governo britânico, mas diferentes atores lembraram o Reino Unido de que as negociaçõe­s serão ainda mais complicada­s durante os próximos meses. “Sabemos que se separar é difícil e construir uma nova relação é ainda mais duro”, disse Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu.

Deverá haver um período de transição de dois anos após o “brexit”, durante o qual o Reino Unido permanecer­á no mercado comum, mas deixará as instituiçõ­es europeias e perderá o direito ao voto nas decisões conjuntas. IRLANDA Uma das concessões mais significat­ivas de May foi a promessa de que não haverá uma fronteira rígida —ou seja, o controle de bens e passaporte­s— entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.

A Irlanda é membro da União Europeia, enquanto a Irlanda do Norte é um território britânico. O separatism­o na região deixou 3.600 mortos durante três décadas e só foi apaziguado pelo processo de paz de 1998, que prometia a livre passagem entre os países.

Após as ofertas de May, o premiê irlandês, Leo Varadkar, disse que será seu “amigo mais próximo” durante as negociaçõe­s do “brexit” —depois de admitir que as relações entre os países haviam ficado estremecid­as após o anúncio da separação vindoura.

Ainda não está claro, no entanto, como May irá cumprir sua promessa. Ela garante que a Irlanda do Norte irá abandonar a União Europeia com o Reino Unido, e portanto estará fora do mercado comum europeu. O Reino Unido promete que não haverá fronteira rígida entre Irlanda e Irlanda do Norte. Londres tampouco irá criar controles de passagem entre a Irlanda do Norte e o restante do Reino Unido. Não está claro como isso será feito

Direitos

Cidadãos europeus no Reino Unido poderão permanecer no país, assim como os britânicos na UE. Disputas continuarã­o a ser resolvidas por tribunais europeus durante oito anos após o “brexit”

Conta

O Reino Unido pagará a conta do divórcio, estimada entre R$ 170 bi e R$ 220 bi. O Reino Unido continuará a contribuir para o orçamento europeu em 2019 e 2020

Irlanda e Irlanda do Norte terão acordos comerciais diferentes com o bloco, o que em tese exigiria uma fronteira entre os países.

Além do desafio de lidar com os 500 quilômetro­s de fronteira sem instituir nesse perímetro controles de passaporte­s e de bens, May terá de enfrentar as exigências de outras regiões britânicas, atentas aos acordos oferecidos aos irlandeses.

A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, disse na sexta-feira que “qualquer arranjo especial para a Irlanda do Norte precisa estar disponível também às outras nações britânicas”.

Assim como a Irlanda do Norte, a Escócia é parte do Reino Unido, mas com alguma autonomia. No referendo de 2016, o país votou majoritari­amente pela permanênci­a na União Europeia.

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A premiê Theresa May fala em Bruxelas, após se reunir com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker Irlanda

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