Folha de S.Paulo

Japão planeja ter míssil de médio alcance

Novas armas poderiam atingir a Coreia do Norte; em 2017, vizinho lançou 2 foguetes que cruzaram ilhas nipônicas

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Plano deve aumentar debate sobre reformar Constituiç­ão pacifista para elevar capacidade de ataque do país

O governo do Japão anunciou nesta sexta-feira (8) o plano de comprar mísseis de médio alcance para ataques aéreos capazes de atingir a Coreia do Norte. A declaração é feita meses depois que dois mísseis lançados pelo país comunista sobrevoara­m o norte do território japonês.

O ministro da Defesa, Itsunori Onodera, não se referiu à ditadura de Kim Jong-un ao anunciar a transação. Segundo ele, o equipament­o será usado apenas para a defesa do país, que ainda dependerá dos Estados Unidos para atingir as bases inimigas.

“Estamos planejando introduzir os JSM [sigla para mísseis conjuntos de ataque], que serão montados nos caças F-35A como projéteis que podem ser disparados além do alcance das ameaças do inimigo”, disse Onodera em entrevista coletiva.

Segundo ele, a nova arma, de origem norueguesa, tem capacidade de atingir alvos em um raio de 500 km. Atualmente, os militares japoneses possuem apenas foguetes de defesa antiaérea ou contra embarcaçõe­s, com alcance máximo de 300 km.

Como os novos mísseis podem ser colocados em caças e disparados do ar, eles poderiam chegar ao território norte-coreano —a distância mínima entre os dois países é de 530 km.

Onodera disse que as autoridade­s japonesas também pretendem adquirir outro míssil, o JASSM-ER, com alcance de até 1.000 km, a ser usado nos caças F-15.

A Constituiç­ão japonesa, redigida após a Segunda Guerra Mundial (1939-45) por imposição americana, determina que as forças militares do país sejam empregadas apenas na autodefesa e proíbe Tóquio de declarar guerra.

O plano de compra das novas armas deve aumentar o debate no país sobre as tentativas do primeiro-ministro Shinzo Abe de reformar a Carta para aumentar a capacidade de ataque japonesa. A ideia, porém, enfrenta oposição de parte dos parlamenta­res e da opinião pública.

Políticos favoráveis à mudança, como Abe e Onodera, citam o aumento das tensões com a Coreia do Norte como principal justificat­iva para uma possível mudança constituci­onal. Segundo eles, o país precisa ter a capacidade de atacar Pyongyang caso seja necessário.

Ao lado da Coreia do Sul, o Japão é um dos potenciais alvos norte-coreanos na Ásia. A maioria dos mísseis disparados pelo regime de Kim Jong-un cai no mar do Japão, entre a Península Coreana e as ilhas nipônicas.

Dois desses lançamento­s cruzaram Hokkaido, ao norte do arquipélag­o, em 29 de agosto e 15 de setembro, e levaram ao acionament­o de alertas de defesa do país.

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