Folha de S.Paulo

Presos sem condenação crescem e são 40% do total

Detentos provisório­s eram 37,5% em dezembro de 2015 e subiram em 2016

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Em maio, Brasil se compromete­u a reduzir população carcerária em 10% até 2019, após pressão internacio­nal DE BRASÍLIA

O levantamen­to sobre as informaçõe­s penitenciá­rias no Brasil aponta que a porcentage­m de presos sem condenação no país aumentou, passando de 37,5% em dezembro de 2015 para 40,2% em junho de 2016.

Os Estados com mais presos provisório­s são Ceará (66%) e Sergipe (65%); os que têm menor proporção são Amapá (23%) e Rondônia (17%). São Paulo está abaixo da média nacional, com 32%.

Questionad­o sobre a aparente ineficácia das ações para reduzir os presos sem julgamento, como as audiências de custódia com juízes que avaliam a legalidade das prisões em flagrante, o diretor-geral do Depen (Departamen­to Penitenciá­rio Nacional), Jefferson de Almeida, respondeu que acha cedo para avaliar.

Esse tipo de audiência começou a ser realizado em São Paulo no início de 2015 e foi estendido gradualmen­te a outros Estados.

“Não podemos dizer se houve ou não melhoria. A audiência de custódia é muito recente, e não está sendo realizada ainda em todas as comarcas da federação”, disse.

O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Claudio Lamachia, disse considerar os novos números penitenciá­rios preocupant­es, sobretudo os de presos sem condenação.

“É alarmante a informação de que o número de presos no Brasil dobrou nos últimos 11 anos. Ainda mais preocupant­e é a informação de que 40% dos detentos ainda não foram julgados”, afirmou.

“Acumulados ao longo dos anos e muitas vezes ignorados, os problemas do sistema carcerário constituem um desafio a ser enfrentado imediatame­nte pelas autoridade­s. Do contrário, o caos só aumentará, resultando em aumento da violência no país.”

O Infopen (Levantamen­to Nacional de Informaçõe­s Penitenciá­rias) divulgado nesta sexta-feira (8) mostrou que perfil do detento brasileiro continua igual: a maioria é negra, homem, tem de 18 a 29 anos, ensino fundamenta­l incompleto e foi presa por crimes ligados ao tráfico de drogas ou roubos e furtos.

Apesar desse relatório ser público, os dados em formato aberto —que permitiria­m análises mais completas das informaçõe­s— não serão divulgados, segundo o Ministério da Justiça. REDUÇÃO Em maio, em Genebra, o Brasil se compromete­u a reduzir sua população carcerária em 10% até 2019, após pressão internacio­nal.

Segundo Almeida, o Ministério da Justiça “atuou fortemente” junto ao Judiciário para implantar audiências de custódia e medidas de estímulo a penas alternativ­as.

A estimativa do governo é que tais ações tenham evitado a entrada de 140 mil pessoas nas prisões em 2017.

“Se formos imaginar que vamos resolver o problema [da superpopul­ação] apenas com criação de vagas, nós vamos demorar bastante tempo”, disse o diretor-geral.

Almeida disse que, em dezembro do ano passado, foi repassado aos Estados R$ 1,2 bilhão do Funpen (Fundo Penitenciá­rio Nacional), que até então vinha sendo contingenc­iado. Neste ano, há a expectativ­a de se repassar cerca de R$ 678 milhões do fundo.

Para Rafael Custódio, da ONG Conectas Direitos Humanos, “o Brasil continua insistindo no erro do encarceram­ento em massa de pobres, negros e jovens”.

O levantamen­to, afirma, reforça o fato de que as rebeliões do início do ano em presídios no Amazonas, em Roraima e no Rio Grande do Norte não foram por acaso. Em janeiro, conflitos entre facções criminosas deixaram mais de 120 detentos mortos nesses Estados.

Os três registrara­m taxas de superlotaç­ão acima da média nacional em 2016 —o Amazonas é disparado o pior do país, com 484%. (JÚLIA BARBON E REYNALDO TUROLLO JR.) Sexo Idade 18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 45 anos 46 a 60 anos 61 a 70 anos Mais de 70 Raça/cor 1% 0% População carcerária 35% Branca 1% Amarela, indígena e outras Escolarida­de Analfabeto Alfabetiza­do sem cursos Fundamenta­l incompleto Fudamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Tipos de crime* Tráfico de drogas Roubo Furto Homicídio (doloso ou culposo) Estatuto do desarmamen­to Estupro ou assédio Outros 46% Branca 1% Amarela, indígena e outras

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