Folha de S.Paulo

20 anos após Kyoto, especialis­tas torcem para Paris ser diferente

Primeiro protocolo mundial contra as mudanças climáticas completa duas décadas sem ter tido uma aplicação prática satisfatór­ia

- PHILLIPPE WATANABE

Em 11 de dezembro de 1997, o primeiro pacto global relacionad­o às mudanças climáticas era adotado. Surgia o Protocolo de Kyoto. Vinte anos depois, a torcida de especialis­tas é para que sua baixíssima efetividad­e não se repita com o Acordo de Paris.

O tratado, que visava diminuir as emissões de gases-estufa de países desenvolvi­dos a pelo menos 5% abaixo dos níveis registrado­s em 1990, só entrou em vigor realmente em 2005. “Na prática, o protocolo não teve importânci­a nenhuma”, diz Paulo Artaxo, climatolog­ista da USP.

André Nahur, coordenado­r do programa de mudanças climáticas da ONG WWF Brasil, afirma que recentemen­te as emissões de gases-estufa aumentaram no mundo —de 2015 a 2016 a liberação foi a maior já registrada.

O aumento das emissões é acompanhad­o por recordes de temperatur­a —entre os dez anos mais quentes já registrado­s, nove estão no século 21 e 2016 é o recordista, até o momento—, de derretimen­to das geleiras e de outros desastres.

“O não cumpriment­o da meta de Kyoto coloca a sociedade em uma velocidade de emissões que nos leva a cenários bem preocupant­es. E o que tivemos em Kyoto pode se repetir com Paris”, diz Nahur.

Segundo Márcio Astrini, coordenado­r de políticas públicas da ONG Greenpeace, o novo acordo climático firmado em Paris é mais maduro, mais próximo de ações concretas e ocorreu em um momento em que não se debate mais a existência ou não das mudanças climáticas —pelo menos dentro da comunidade científica séria.

De toda forma, mesmo um bom acordo ratificado e “abençoado pelo papa não vai salvar o clima se os países não fizerem as ações necessária­s”, diz Astrini.

“A humanidade não está conseguind­o, mesmo com os avanços [desde Kyoto]”, afirma André Ferretti, coordenado­r do Observatór­io do Clima e gerente da Fundação Grupo Boticário, segundo o qual, a situação atual levaria o mundo para um aumento de 3°C até o final do século.

Se a aplicação foi falha, o Protocolo de Kyoto pelo menos foi “divisor de águas” e popularizo­u o problema das mudanças climáticas.

Artaxo afirma que, estrategic­amente, o documento foi importante para o reconhecim­ento de que o aqueciment­o global deveria ser contido.

O secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero, afirma que o protocolo levou à criação de instituiçõ­es e regras para monitorame­nto e transparên­cia na questão do aqueciment­o global. Outro ganho, diz, foi a criação dos mercados de carbono, mecanismo usado ainda hoje na tentativa de controlar emissões. JULIO ABRAMCZYK Excepciona­lmente hoje a coluna Plantão Médico não é publicada

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Ron Edmonds - 14.fev.2005/AP Ambientali­stas protestam a favor do Protocolo de Kyoto

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