Folha de S.Paulo

ALGORITMOS PARA VIVER

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Hoje, poucas palavras causam mais ansiedade do que “algoritmo” —magia negra das corporaçõe­s que controlam o consumo de informação, o trânsito e a propaganda a que somos expostos.

Por sorte, a definição da palavra é simples. Um algoritmo é uma sequência de passos para resolver um problema, ou seja, um manual de instruções para lidar com um conjunto de dados.

A desmistifi­cação desse conceito, relevante inclusive para o exercício da nossa cidadania digital, é o maior trunfo de “Algoritmos para Viver”, do escritor Brian Christian e do professor de ciência cognitiva Tom Griffiths.

Noções básicas de matemática, como probabilid­ade, explicam um algoritmo para otimizar apostas em caça-níqueis. Com um pouco de funções e logaritmos, aprendese a organizar uma estante.

A proposta dos autores é uma conversa entre a autoajuda e a ciência da computação, surfando na onda de sucessos como “Freakonomi­cs”, que trazem a teoria para a realidade prática.

Para quem estiver disposto a confiar na matemática, existem algoritmos para decidir com quem casar, onde comer e que casa comprar.

É o caso do matemático Michael Trick, que, nos conta o livro, calculou com cuidado qual seria a melhor candidata para ser sua mulher —e depois foi rejeitado pela moça. PROGRAMAÇíO Os algoritmos surgiram para resolver problemas matemático­s muitos anos antes de computador­es existirem, em situações em que não há como saber tudo de antemão.

O melhor momento para vender uma casa, se não sabemos qual será o valor das ofertas futuras, é um bom exemplo de problema que precisa de um algoritmo.

Na programaçã­o, que se trata, em sua essência, de escrever sequências de instruções para obter um resultado eficiente, a tática cai como uma luva. Por ter uma quantidade limitada de espaço, energia e poder de processame­nto, uma máquina sempre tem que escolher suas prioridade­s, e essa é a utilidade primordial de um algoritmo.

Como decidir o que fica alocado na memória RAM (rapidament­e acessível) e o que fica armazenado longe do processado­r, no disco rígido (de difícil acesso)? Se o computador não sabe quais arquivos o usuário vai precisar nos próximos cinco minutos, não há uma resposta certa.

Mas não é preciso saber a melhor saída —basta saber a estratégia (ou algoritmo) que geralmente é mais eficiente.

O ensinament­o mais útil da autoajuda de Griffiths e Christian é que jogar a toalha diante de problemas difíceis pode ser um ato de inteligênc­ia, e não de covardia. É uma questão de estratégia e de confiar no que provavelme­nte vai da certo, mesmo que não dê (e seu computador trave). GRANDES DADOS O termo “big data” foi, recentemen­te, considerad­o fora de moda pela consultori­a Gartner, que mantém atualizada uma curva de tendências recentes na tecnologia.

O motivo não é que analistas tenham abandonado as estratégia­s algorítmic­as para organizar grandes volumes de dados, e sim que isso já se tornou banal. Mas corremos o perigo de banalizar algo que ninguém sabe o que é.

Fato é que ser didático com matemática não é tão fácil quanto parece, e isso afugenta leigos. É um problema do livro. Na tentativa de simplifica­r um assunto árduo, “Algoritmos para Viver” às vezes coloca a carroça na frente dos bois, e alguns trechos são quase incompreen­síveis.

É melhor ler com um lápis e uma folha de papel, e, no caso de dúvidas, recorrer ao algoritmo de busca do Google. O empenho vale a pena para viver na era em que “big data” não é mais novidade. AUTOR Brian Christian e Tom Griffiths EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 69,90 (528 págs.) AVALIAÇÃO muito bom

ONDE ESTACIONAR?

O problema de onde estacionar é parecido com o do casório. Trata-se de buscar a “parada ótima”, melhor momento para parar de procurar e não gastar combustíve­l demais. O estudo de probabilid­ade indica que, se 85% das vagas estão ocupadas, você só precisa se contentar com qualquer uma quando estiver a um quarteirão de distância

COMO ORGANIZAR?

Para organizar uma estante em ordem alfabética, separe os livros em pilhas de dois, organize ambos na ordem e, depois, junte as pilhas. É o método mais eficiente. Mas há uma má notícia para os arrumadinh­os —talvez o custo de buscar um livro (na desordem) seja muito baixo para justificar esse esforço. Aproveite o caos Quando vamos a um restaurant­e novo, corremos o risco de que seja ruim. Em alguns casos, porém, podemos dar nova chance ao cozinheiro. Então siga o índice de Gittins, que vai de 0 a 1. Atribua um valor inicial ao restaurant­e, e, em cada deslize, desconte um valor da nota. Só repita restaurant­es que ficarem acima de uma nota específica (0,5)

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Gabriel Cabral/Folhapress ONDE COMER?
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Reinaldo Canato/Folhapress

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