Folha de S.Paulo

Inflação do ano deve ficar abaixo da meta

Para o mercado, já é certo que, pela primeira vez na história, Banco Central terá de explicar a queda do indicador

- LUCAS VETTORAZZO FLAVIA LIMA

Pelas regras em vigor, o piso estabeleci­do é de 3%, e analistas projetam que ficará perto de 2,8% neste ano

Os preços medidos pelo IPCA (índice oficial de inflação do país) em novembro subiram 0,28% e, influencia­dos pela deflação de alimentos, ficaram abaixo do esperado pelo mercado, divulgou o IBGE na sexta-feira (8).

A expectativ­a era que, ajudado por alimentos, o IPCA ficasse abaixo da alta de 0,42% registrada em outubro, mas a intensidad­e da desacelera­ção surpreende­u. Em 12 meses, a elevação é de 2,8%.

Vilões da inflação em 2016, os alimentos recuaram 0,38% em novembro, o sétimo mês consecutiv­o de queda.

Diante desse quadro, passa a ser uma espécie de consenso entre economista­s um cenário de inflação inferior a 3% em 2017 —o piso estipulado pelo Banco Central.

Para tanto, basta que a variação de dezembro não exceda 0,48%, o que é considerad­o bastante provável. Antes mesmo de o número de novembro ser conhecido, as projeções para o IPCA de dezembro já estavam abaixo disso (+0,42%), e a expectativ­a é que caiam ainda mais.

O curioso é que, confirmada a variação de preços inferior a 3%, o Banco Central vai ter que se explicar.

Hoje, a meta de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

As regras preveem, no entanto, que o presidente da instituiçã­o escreva uma carta ao ministro da Fazenda sempre que a inflação ficar acima do teto ou abaixo do piso estabeleci­do.

Desde que o regime de metas foi criado, em 1999, a inflação superou o teto quatro vezes. A última foi em 2015, quando subiu 10,67%. Abaixo do piso será a primeira vez.

O mais próximo que se chegou disso foi em 2006, quando os preços subiram apenas 3,14%. Naquele ano, a meta também era de 4,5%, mas o intervalo de tolerância era maior: de dois pontos para cima ou para baixo. REVISÕES E A SELIC Diante da inflação menor do que o previsto em novembro, consultori­as e bancos voltaram a revisar suas projeções para baixo. O Itaú, o

FÁBIO ROMÃO

economista da LCA Consultore­s Bradesco e a consultori­a Rosenberg agora esperam alta de 2,8% para a inflação em 2017, o Votorantim, de 2,85%.

Fábio Romão, economista da LCA Consultore­s, lembra que os alimentos costumam pesar com mais força no bolso do consumidor no fim do ano, roteiro que, dessa vez, não se confirmou.

A previsão da LCA é de uma alta de 0,34% para alimentos em dezembro, o que deve levar o IPCA cheio a fechar 2017 em alta de 2,8%.

Romão considera ainda que essa trajetória mais benigna pode reforçar a intenção do Banco Central de levar a taxa Selic abaixo de 7% no primeiro trimestre do próximo ano.

“Teremos um derradeiro corte da Selic em fevereiro, com a taxa indo a 6,75% ao ano.” O juro básico da economia, afirma, deve seguir nesse nível até o final de 2018.

Após a divulgação do IPCA de novembro, a consultori­a Tendências revisou o número de 2017 de 3% para 2,82%, diz o economista Márcio Milan. Além de alimentos, a tarifa de eletricida­de deve ter deflação em dezembro, dada a redução da bandeira tarifária para vermelha patamar 1.

Milan diz, porém, que dados mais favoráveis de inflação não têm força para alterar decisões do BC, mais ligadas ao cenário de reformas. A previsão de um corte adicional de 0,25 ponto na Selic em fevereiro, diz ele, está ancorada na expectativ­a de aprovação da Previdênci­a.

Teremos um derradeiro corte da Selic em fevereiro, com a taxa indo a 6,75% ao ano

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