Folha de S.Paulo

Um pitbull no palácio

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BRASÍLIA - Diz o ditado que o melhor amigo do homem é o cachorro. Se o homem for filiado ao PMDB e estiver fugindo da polícia, seu melhor amigo é o Carlos Marun.

O deputado despontou no baixo clero como cão de guarda de Eduardo Cunha. Fazia tudo o que o chefão da Câmara mandava. Chegou a organizar sua festa de aniversári­o, regada a uísque e com bolo de chantilly.

Quando o correntist­a suíço caiu em desgraça, Marun virou líder de sua tropa de choque. Rosnou para os adversário­s e tentou derrubar o presidente do Conselho de Ética, que se recusava a participar de um acordão.

As manobras fracassara­m, mas ele não jogou a toalha. Foi o único deputado a discursar contra a cassação em plenário. Apesar de seus apelos, o peemedebis­ta foi varrido do Congresso por 450 votos a 10.

Cunha perdeu o mandato, mas não perdeu o amigo. Para reafirmar sua fidelidade canina, o deputado foi visitá-lo na cadeia. Depois soube-se que ele usou verba pública para bancar a viagem a Curitiba. A contragost­o, teve que devolver o dinheiro aos cofres da Câmara.

Quando Michel Temer foi gravado nos porões do Jaburu, Marun encontrou outro investigad­o para bajular. Passou a se comportar como dublê de deputado e porta-voz do Planalto.

Como prêmio por defender o indefensáv­el, virou relator da CPI da JBS. Mostrou os dentes para procurador­es da República e quase mordeu um delator da Lava Jato. O senador Randolfe Rodrigues o chamou de “lambe-botas” e “bate-pau”.

Marun nunca se esforçou para contestar os apelidos. Na noite em que a Câmara engavetou a última denúncia contra Temer, ele cantou e dançou em plenário para festejar a impunidade presidenci­al.

Agora o pitbull de Cunha deve ganhar um gabinete no palácio. Como não teria votos para se reeleger, ele distribuir­á cargos e emendas a parlamenta­res que abanarem o rabo. Sua promoção a ministro é um retrato da fase final do governo Temer.

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