O trânsito de São Paulo tem solução?
O mantra sobre “melhorar o transporte público para atrair o usuário do automóvel” é uma ilusão, caso não se eleve o custo real de andar de carro
O trânsito de São Paulo segue em condições congestionadas, com grandes impactos negativos à sociedade. Melhores condições de mobilidade requerem mudança na visão do problema, especialmente no tocante ao uso do automóvel e aos benefícios que vem recebendo.
A vantagem no uso do automóvel está ligada a subsídios diretos e indiretos: os subsídios à gasolina; o estacionamento gratuito diário de 1 milhão de automóveis nas ruas, que é um subsídio oculto de no mínimo R$ 3 bilhões por ano (caso fossem cobrados R$ 10 por veículo) — os milhares de quilômetros de faixas asfaltadas usados para estacionar veículos gratuitamente custaram bilhões de reais à cidade e requerem manutenção permanente; e o sistema de táxi, um automóvel alugado com motorista, que recebe cerca de R$ 250 milhões de subsídios por ano, além de reduzir a eficiência dos ônibus nos corredores, aumentando seu custo operacional e a poluição.
Por isso, os automóveis são 80% dos veículos nas vias principais, ocupando muito mais espaço que os ônibus para transportar uma quantidade menor de pessoas. Precisamos entender que o veículo automóvel requer grande espaço para circular e que é fisicamente incompatível com o sistema viário — nenhuma grande cidade no mundo conseguiu acomodar seus automóveis. No congestionamento da tarde em São Paulo, apenas 15% dos veículos estão simultaneamente nas ruas. A conclusão final é simples: não cabe e nunca caberá.
Muitos estudos foram feitos para estimar os impactos de ações para mudar o sistema de mobilidade. O último deles, para o horizonte de 2030, mostrou que, apesar de um grande investimento nos sistemas de transporte público, sua participação nos deslocamentos das pessoas não aumentaria significativamente. A explicação é simples: o estudo não contemplou medidas de restrição ou desincentivo ao uso excessivo do automóvel.
Por trás do resultado frustrante está a lógica de escolha dos modos pelas pessoas: o usuário faz a escolha considerando principalmente o conforto e o custo direto de uso, que no caso do automóvel é o combustível e, em apenas 10% dos casos, o estacionamento pago.
Assim, para a maioria dos que usam automóvel, o custo é inferior ou no máximo igual ao do transporte coletivo; usuários de autos (e motos) não mudam para o transporte coletivo. Por isso, o “mantra” sempre repetido sobre “melhorar o transporte público para atrair o usuário do automóvel” é, em grande parte, uma ilusão.
É necessário que o custo cobrado (e percebido pelas pessoas) por usar o automóvel incorpore os seus impactos físicos, ambientais e econômicos. O custo precisa ser alterado para valores mais próximos dos europeus, em que usar o carro em grandes cidades custa de cinco a sete vezes mais que usar o transporte público em uma viagem similar. CaA so contrário, não é possível evitar o uso excessivo do automóvel.
Na prática, poderíamos buscar as metas de 70% de participação do transporte coletivo nas viagens motorizadas (hoje é de 50%) e de redução de 30% do uso do automóvel no sistema viário principal durante o dia, que é possível para a maioria das pessoas.
É essencial complementar a rede de metrô; ampliar o sistema de preferência para ônibus; limitar o crescimento do sistema viário a casos muito especiais; definir uma política de estacionamento nas vias que cobre de quem estaciona o custo real de usar este espaço público; e avançar na reorganização da mobilidade nos bairros, para facilitar a caminhada e o uso da bicicleta, em um novo contexto de qualidade. EDUARDO A. VASCONCELLOS Ignorância Talvez por modéstia, a Folha não deu grande destaque à pesquisa do Instituto Ipsos Mori que coloca o Brasil como o “segundo país com menos noção da própria realidade”. Nem por isso vamos deixar de dar a esse jornal, e à imprensa brasileira em geral, os merecidíssimos créditos pela grande contribuição que vem sendo dada há décadas para garantir a ignorância dos brasileiros. Continuem assim, ano que vem ninguém nos rouba a liderança no ranking
CELSO BALLOTI
Jair Bolsonaro O colunista Igor Gielow, assim como outros neste jornal, ainda não compreenderam (nem querem) o fenômeno Jair Bolsonaro. Ele não está nem aí para centro, esquerda ou direita. Bolsonaro veio para dizer o que pensa, pouco se importando em cabalar votos ou angariar simpatias. Quem quiser que vote nele, se ganhar, ganhou, e eis aí o ponto em que o deputado mete tanto terror: livre das armadilhas e de acordos de bastidores, ele corre como quer e não terá, caso ganhe, freios imorais senão os da lei.
PAULO BOCCATO
Pesquisa eleitoral
Carlos Vereza, nem modesto nem insignificante é o seu apoio ao presidente Temer. Estou com você! Muitos brasileiros estão! Se todos os congressistas populistas e egocêntricos pensassem no futuro do Brasil, votariam a favor das reformas necessárias para nosso país crescer!
ROSANE CAMINHOTO ROTONDO
Futebol Considerando os maiores que passaram pelo São Paulo, Raí ocupa um dos lugares mais destacados. Ele não me pediu conselho, mas ainda assim vou alertá-lo. Essa diretoria tem planejamento zero, basta ver o que tem acontecido com o time nesses últimos anos. Uma tristeza! Neste ano, venderam vários jogadores e compraram outros tantos depois de iniciado o campeonato. Escapamos por pouco. O jogo neste campo vai ser mais duro do que os que ele já jogou (“Raí aceita convite do São Paulo e será novo diretor-executivo”, “Esporte”, 8/12).
WILSON REINHARDT FILHO
Racismo