Branco que se diz negro é capítulo novo de polêmica
DE SÃO PAULO
Após a discussão sobre a pertinência de cotas nas universidades (que teve a adesão neste ano de USP e Unicamp, as duas últimas grandes do país que resistiam ao sistema), denúncias de fraudes na ocupação de vagas destinadas a negros e indígenas têm representado um novo capítulo de polêmicas.
Como o critério geral é o de autodeclaração, estudantes brancos têm ocupado as vagas ao se inscreverem pelos critérios raciais. Dados do sistema de seleção das federais mostram que as notas de corte nas vagas destinadas a esse grupo são menores.
Em setembro, a Folha revelou fraudes na Universidade Federal de Minas Gerais. A instituição prometeu refinar o sistema de comprovação, e o Ministério Público Federal abriu investigação.
Após denúncia de fraudes, a Unesp (Universidade Estadual Paulista) criou uma comissão de verificação no meio deste ano. “A ideia é assegurar a efetividade da política. Há preocupação para não constranger ninguém, abrindo a possibilidade de o aluno nos apresentar o que o levou a se declarar”, afirma Juarez Xavier, da pró-reitoria de extensão universitária.
O professor Xavier, que é do movimento negro, diz que a discussão se refere a um momento específico do Brasil. “Temos tido a primeira experiência no mundo em cotas para a maioria da população, é um desafio lidar com isso.”
Pelo censo populacional, 53% da população é negra. Nos Estados Unidos, por exemplo, são 12%.
O diretor da ONG Educafro, frei David Santos, afirma que as denúncias estão se avolumando. Ele defende estratégias de verificação dos aprovados —um entendimento que, segundo ele, amadureceu no movimento negro. “Queremos que as universidades façam editais específicos para negros ocuparem as vagas ociosas por causa de fraudes.”
Para Gustavo Balduíno, da Andifes (que reúne dirigentes das federais), as denúncias não podem colocar os projetos em xeque. “Esses casos são residuais e não comprometem a política.” (FT E PS)