ANÁLISE Estilista acabou desperdiçado por montanha-russa do mercado
FOLHA
São raríssimos os estilistas brasileiros que conseguiram espaço no cenário internacional e, além disso, transferiram para as roupas propostas uniformes, ainda que mal recebidas pela crítica ou pelos clientes, sem as mudanças bruscas de seis em seis meses criadas para movimentar o mercado.
Ocimar Versolato, morto na sexta-feira (8), em São Paulo, foi desses estilistas que não fazia concessões. A passagem pela Lanvin, embora esquecida na biografia da marca, fez do Brasil um nome a ser olhado com atenção.
Ao lado de Francisco Costa, ex-Calvin Klein, Pedro Lourenço, ex-La Perla, e Gustavo Lins, foi o mais experiente de uma leva de estilistas reconhecidos nos anos 1990. Na mesma época, surgiram rebeldes como Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga, quebrando a constante de cópias do estilo europeu até então vinculadas à criação local.
Crítico ácido do que chamava de “breguice” dos estilistas brasileiros, muitas vezes resvalava no próprio complexo de inferioridade que apontava em seus colegas, a quem se referia como “copiadores”.
Em entrevista à Folha, em 2009, quando ia lançar uma linha de beleza após suas malfadadas incursões no varejo de moda, definiu parte dos estilistas nacionais como “caipiras”, ainda que, a bem da verdade, sua moda não se distanciasse tanto da europeia.
A tesoura clássica do estilista, tido pela mídia especializada como o mais técnico dessa safra, conquistou a clientela francesa e atrizes como Sônia Braga, uma de suas musas —e a quem vestiu em “Tieta” (1996), de Cacá Diegues.
As cartelas enxutas, o uso comedido de assimetrias e silhuetas esguias bem definidas na cintura e no busto pontuaram boa parte de seu legado para a costura brasileira.
O desejo de criar liberto de pressões e o espírito inquieto foram a dádiva e a desgraça de Versolato. Belas roupas precisam de vitrine, e ele não conseguiu seguir com os negócios por falta de tato comercial e pelos problemas judiciais com os ex-sócios, virando outro triste exemplo de “gênio criativo” desperdiçado pela montanha-russa do mercado de moda nacional.