Tecnológico nos traz.
personagens do livro, misturando também uma boa dose de suas impressões pessoais e do senso de maravilhamento que ele tinha pela ciência e queria partilhar com o mundo.
É fascinante —e ainda o será mesmo daqui a 300 anos— leroqueeletemadizersobre sua participação nas missões Viking, as primeiras a realizarem um pouso bem-sucedido em Marte, em 1976, e no que resultaram as primeiras tentativas de busca de vida por lá.
Ao apresentar esses esforços, assim como a espetacular missão Voyager, que até então só havia visitado Júpiter e Saturno, Sagan nos apresenta a noção de que esse é apenas o início, os primeiros passos de bebê, na aventura da humanidade em busca do conhecimento.
Outros passos se seguirão, Sagan nos diz, mas somente se tivermos a capacidade de nos desviarmos dos perigos que nosso crescente poderio PARANOIA NUCLEAR Sagan devota boa parte do tempo no livro a mostrar a estupidez das guerras e a ameaça de um conflito nuclear — algo que era especialmente temido na época, em razão da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética.
De 1980 para cá, a probabilidade de um grande conflito total entre duas superpotências diminuiu drasticamente. Mas estão por aí Donald Trump e Kim Jong-un, além de um recrudescimento do nacionalismo no mundo inteiro, que certamente não deixariam Sagan dormir tranquilo, estivesse vivo hoje.
“Hipnotizados por desconfianças mútuas, quase nunca levando em consideração as espécies ou o planeta, as nações se preparam para a morte”, ele escreve. “E como o que estamos fazendo é tão terrível, tendemos a não pen- sar muito nisso. Mas aquilo que não levamos em consideração é improvável que possamos corrigir.”
Esse é um parágrafo que talvez soe melhor hoje do que na época em que foi escrito, e mostra a perenidade da contribuição de Carl Sagan à discussão dos rumos da civilização. Com desafios tão grandes quanto a mudança climática, a inteligência artificial e a constante ameaça das armas de destruição em massa, que caminho vamos escolher?
Vamos nos abrir ao futuro, com um nível de tolerância compatível com a compreensão de que somos todos feitos de poeira de estrelas, ou optaremos pelo passado, com o obscurantismo e a rejeição da ciência? Para quem leu Sagan, a escolha certa é óbvia. AUTOR Carl Sagan EDITORA Companhia das Letras PREÇO R$ 48 (560 págs.)