As, aos homens. Engradados de água e refrigerante e outros mantimentos eram armazenados no local.
O corredor
funciona também como espaço de convivência. Nele há um sofá improvisado, feito com vários colchões, onde os presos se instalavam para ver filmes que recebiam em pen drives enviados pelas famílias. As séries favoritas eram “House of Cards”, “Breaking Bad” e “Narcos”, que conta a vida do traficante Pablo Escobar. as filhas. E estudava seus processos. “Você tá é escrevendo a tua delação, né?”, dizia a ele Pedro Corrêa, o mais brincalhão de todos.
Corrêa só chamava Marcelo de chefe. “E aí, chefe? E agora? Não tem mais empreiteira pra corromper, não tem mais político para ser corrompido. Como é que vai ser?”. O empreiteiro reagia: “Isso é brincadeira que se faça?”.
Odebrecht era fechado. Não perguntava nada nem contava nada a ninguém. Mas era “o mais solidário de todos”, de acordo com um excompanheiro de cela. “Às vezes chegava lá uns ladrões de cigarro, só com a roupa do corpo. Ele dava o próprio moletom para que não passassem frio. Emprestava lençóis, cobertores”. Demonstrava tranquilidade e força.
A notícia foi vista por todos na TV. “Que sacanagem, Marcelo”, solidarizaram-se os amigos do cárcere. “Tudo bem. Pelo menos os outros dois vão para casa”, respondeu ele, tentando disfarçar.
No mesmo dia, recebeu a visita da mulher, Isabela. “Ela chorava muito, muito. Sem parar”, diz uma das testemunhas do encontro.
Não reclamava de nada. Em cerca de dois anos, só uma vez foi visto falando mal de outra pessoa: seu próprio pai, Emílio Odebrecht.
Sempre que alguém gostava de algum prato, Marcelo contava à mulher. Na próxima visita, ela enviava a refeição exclusivamente para a pessoa que apreciou a guloseima, com um bilhetinho. Uma das três filhas do casal escrevia aos presos, a quem chamava de “tio” e “tia”.
Aos sábados, o próprio Marcelo preparava uma pizza com pão sírio e coberturas variadas. A de azeite com zaatar era considerada “espetacular”. Outra receita levava tomate cereja e queijo de cabra importado.