Folha de S.Paulo

À tarde, escrevia longas cartas, uma espécie de diário, para a mulher e

Almoçava.

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O doleiro Alberto Youssef escondeu sua sanduichei­ra embaixo da cama. O empreiteir­o Marcelo Odebrecht guardou o aparelho de step. Caixas de chocolate foram recolhidas. Os presos entraram nas celas. “Vamos receber visita”, explicou um dos policiais.

Pouco depois, o delegado voltou com homens e mulheres eleganteme­nte vestidos. Todos olhavam atentament­e para dentro das celas. Faziam perguntas aos agentes. Estudavam o ambiente.

Quando eles foram embora, os carcereiro­s disseram aos presos quem eram aquelas pessoas. Elas integravam a equipe do filme “Polícia Federal: A Lei É Para Todos”.

Foi um episódio deprimente para os encarcerad­os daquela ala da PF. “Parecíamos macaquinho­s no zoológico”, diz um dos que cumpriam pena na época. “Éramos como animais exibidos nas jaulas da Lava Jato”, diz outro.

A tal visita interrompe­u mais um dia como tantos outros na ala da carceragem da PF que abrigava os presos mais célebres da Lava Jato. “Levávamos uma vidinha bem normal”, diz um dos detidos que já deixou a cadeia.

Quando Marcelo Odebrecht chegou para ficar, em fevereiro de 2016, depois de passagens por outras alas e pelo Complexo Médico Penal de Pinhais, já não havia tanto rigor. Uma geladeira tinha sido instalada no local. Com autorizaçã­o oficial, a ala foi equipada ainda com TV e micro-ondas. Youssef e Odebrecht compraram panelas elétricas. O doleiro ainda providenci­ou a sanduichei­ra. E Marcelo, o aparelho de step para fazer exercícios.

Todos os equipament­os foram instalados no corredor que une as três celas da ala — uma delas é destinada às presas mulheres e as outras du-

João Santana costumava acordar às 4h para ler. Nelma Kodama despertava mais ou menos na mesma hora e, atenciosa, esquentava água no micro-ondas e fazia café solúvel para ele.

Odebrecht pedia para Nelma acordá-lo entre 6h e 6h30. “Eu mexia no dedão do pé dele, que fazia sinal de positivo e colocava shorts e camiseta para malhar”, lembra a doleira. Comia seis bananas prata e fazia ginástica até o meio-dia, sem intervalos.

Houve um dia, no entanto, em que os companheir­os de cela perceberam que Marcelo fraquejou. Foi quando o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou, em abril de 2016, o pedido de habeas corpus dele e de dois outros presos da Odebrecht. Os executivos foram soltos. Ele acabou permanecen­do em Curitiba.

“Meu pai não pensa em ninguém. Só nele”, disse. “O que é isso, rapaz? Todo pai pensa no filho”, contestava Pedro Corrêa. “Pensa coisa nenhuma, Pedro. Há quanto tempo ele não vem me visitar? Ele está pensando na empresa. Ele está certo. Mas eu é que vou ter que pagar?”. O Ministério Público Federal exigia que Marcelo deveria cumprir uma pena mais longa, em regime fechado, para celebrar o acordo de delação.

Cada preso tinha direito de receber R$ 500,00 enviados pela família pra gastar na prisão. Um carcereiro guardava o dinheiro e contabiliz­ava as entradas e as retiradas.

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Guilherme Pupo/Folhapress Prédio da PF em Curitiba, onde Odebrecht está preso

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