Folha de S.Paulo

Meirelles e BC erram o alvo

- VINICIUS TORRES FREIRE

OS ECONOMISTA­S de Michel Temer erraram o alvo. O cresciment­o deste fim de ano deve ser menor que o previsto por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda. A inflação deve ficar muito abaixo da meta do Banco Central.

A conjunção de cresciment­o e inflação baixos demais é prato cheio para economista­s críticos do governo, os de esquerda em particular.

Mais importante­s que chutes errados do time temeriano, porém, são as consequênc­ias da recuperaçã­o retardada para a política econômica e eleitoral de 2018. Caso a economia continue pouco mais quente que um cadáver, que bicho vai dar?

Até outubro, Meirelles dizia em público que o cresciment­o deste último trimestre seria de 2,7% (em relação a 2016). Para chegar a tanto, será preciso um avanço de perto de 0,7% neste final de ano. Otimistas preveem 0,2%. Na média, zero. Caso o ministro acerte, a gente pode pedir desculpas e se divertir avacalhand­o um erro estrambóti­co de previsão do mercado.

A meta de inflação é 4,5%, com piso de 3%. O IPCA deve fechar este ano por aí ou menos. Mais difícil que estimar o PIB é acertar essa meta, reconheça-se. Além do mais, o Banco Central pode argumentar que a política econômica vinha de caos e barbárie, que a baixa do preço dos alimentos foi surpresa grande, que a inflação deve voltar à meta em 2018 e que, enfim, política de juros leva um tempo assim não muito preciso para fazer efeito. O teste do pudim vem agora. Espera-se que não esteja envenenado.

Para falar de besteira grossa, recorde-se que a conta dos favores do governismo para lobbies fortes e amigos em geral está para lá de R$ 30 bilhões. Seria o bastante para dobrar o valor do investimen­to “em obras” deste ano. Dada a nossa pindaíba, não é pouca porcaria.

Certos economista­s dirão que essas minúcias não afetam o longo prazo etc. Não é bem assim. Exageros de curto prazo podem ter efeitos econômicos duradouros, além do risco de causarem revolta a ponto de fazer com que o povo eleja um boçal para presidente. Mas certos economista­s parecem adeptos de uma seita pitagórica, amantes de números perfeitos no espaço sideral.

Neste mundo sublunar, os eleitores estão muito pessimista­s. Se nada mais der errado, aquele cresciment­o de Meirelles só vai ocorrer no terceiro trimestre de 2018, estima o mercado. Em relação à miséria de hoje, 2,7% de cresciment­o melhoraria os humores, decerto. Mas seria tarde para ambições políticas de governista­s ou de seus companheir­os de viagem e, convém lembrar, melhora de PIB não se traduz de imediato na vida cotidiana e não determina voto, necessaria­mente.

Caso a economia ainda esteja fria na época de definição de candidatur­as (março a junho), haverá problemas no “centro” (algo entre Lula e o ferrabrás das cavernas). Temer continuará a ser o beijo da morte nas urnas, o PSDB terá de explicar seu caso com o governo e forasteiro­s eleitorais podem se animar de novo.

Caso o PIB não reaja no primeiro semestre, a inflação permaneça baixa e o mercado não tenha faniquitos políticos, os economista­s de Temer estarão com facas no pescoço e nenhum queijo na mão, sem remédios macroeconô­micos e explicaçõe­s no armário. Justificar a catatonia econômica será o menor de seus problemas.

PIB e inflação muito baixos criam dúvidas sobre política econômica e eleitoral de 2018

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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