Folha de S.Paulo

Colaborar para o ajuste é fundamenta­l. Não precisa ser economista, basta saber olhar um pouco para os números.

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Folha - Para fazer previsões para o ano que vem, é preciso traçar vários cenários, não?

Nilson Teixeira - Pela primeira vez estamos dando mais relevância a política em nossas análises. Fizemos cinco cenários de possíveis coligações e analisamos o tempo de TV, os recursos eleitorais e a presença nos municípios. Qual a conclusão?

A campanha de 2018 será muito diferente das anteriores, com as novas regras de financiame­nto. Com menos recursos, o horário livre e as inserções na TV e as ramificaçõ­es nos municípios serão bem mais importante­s.

Outro fator são as mídias sociais. Mas partimos do pressupost­o de que as mídias sociais são mais capazes de atrapalhar determinad­os candidatos, com a exploração de notícias negativas, do que de construir imagem. O eleitor está preparado para isso? Apesar de a reforma ser defendida por quem entende de políticas públicas, 71% da população é contra.

Deve-se começar [a discutir] pelos privilégio­s. A elite tem muitos privilégio­s, em todas as ramificaçõ­es. Abatimento de despesas médicas e de educação no Imposto de Renda são R$ 17 bilhões. Metade do Bolsa Família.

É correto taxista não pagar imposto na compra do carro? Só rico anda de táxi. É razoável água mineral ter algum tipo de abatimento de E a reação oposta, de o Congresso deixar de aprovar pontos que favoreceri­am a candidatur­a do ministro? Pelas conversas que você vem tendo, o governo terá maioria?

Difícil antecipar. Será uma votação apertada. Cabe ao governo se empenhar. O que o país está passando agora é um grande aprendizad­o para o próximo presidente. Uma proposta gradualist­a como foi a buscada pelo presidente Michel Temer não se mostrou a melhor alternativ­a. A mensagem é: aproveite os primeiros cem ou 180 dias, o primeiro ano de mandato para aprovar todas as medidas necessária­s, mais duras. Gradualism­o foi ter esperado para colocar a Previdênci­a?

Sim. A equipe do Ministério da Fazenda sabia o que precisava ser feito. Demorou muito. É uma negociação política, uma decisão do presidente, no fim das contas. Mas a opção de ir primeiro com a regra do teto pressupunh­a uma trajetória tranquila, o que na minha análise das últimas décadas não existe. É sempre muito volátil, muito incerto,

Vejo muitos políticos argumentan­do que o caminho seria a redução dos privilégio­s. Acho mais fácil convencer a sociedade. Nunca é fácil convencer sobre corte de vantagens e benesses. Todos nós temos, de uma forma ou de outra, e todos achamos justos. Mas os funcionári­os giram a máquina do governo, são os que fazem o governo funcionar. Como começar por eles sem parar o governo?

Quem trouxe as propostas relacionad­as à Previdênci­a foram funcionári­os públicos. O Marcelo Caetano [da Previdênci­a Social do Ministério da Fazenda] , o Marcos Mendes [chefe da assessoria especial da Fazenda] . Todos funcionári­os públicos. Todos beneficiad­os. Creio que, se dependesse só deles, eles fariam essa reforma, mas houve uma decisão política, que ultrapassa muito a questão técnica. A reforma tributária ficou marginal nessa discussão?

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