Folha de S.Paulo

ENTREVISTA Hawilla me acusa para resolver seus problemas

EX-PRESIDENTE DA CBF NEGA TER RECEBIDO PROPINA DE EMPRESÁRIO QUE DELATOU ESQUEMA DE CORRUPÇÃO DE CARTOLAS NA FIFA

- DO RIO

Nunca ganhei propina. Eu recebia dinheiro da Fifa no Brasil. Eu trazia esse dinheiro para o Brasil, colocava no Imposto de Renda e botava no caixa “

Se der um ziquizira com o meu transplant­e [renal], vou ter problema para resolver. Por isso, prefiro ficar no Brasil

Acusado de receber propina mesmo após deixar a CBF em 2012, Ricardo Teixeira ataca o empresário J. Hawilla, da Traffic. O ex-presidente da entidade diz que o empresário está “descompens­ado”.

Hawilla fechou acordo de colaboraçã­o com as autoridade­s dos EUA e delatou cartolas. Segundo o empresário, pelo menos US$ 10 milhões foram pagos ao ex-dirigente da confederaç­ão. Folha - Hawilla disse que pagava propina ao senhor para a seleção disputar os torneios com o time titular.

Ricardo Teixeira - Isso não existe. Tenho o contrato aqui [mostra os documentos]. Ele deve estar falando disso [mostrando o contrato da Copa América de 2004, disputada no Peru]. Aqui tem um aditivo, que mostra que a Traffic pagou a CBF uma cota suplementa­r de US$ 1,5 milhão para a seleção disputar “os jogos do evento com os melhores jogadores profission­ais disponívei­s”. No dia 28 de julho daquele ano, o dinheiro foi parar na conta da CBF no Banco Rural. Foi depositado R$ 4,527 milhões na conta da CBF. Naquele ano, a seleção ainda disputou o torneio com alguns reservas [Roberto Carlos e Cafu foram poupados por Parreira e Ronaldo cortado]. Hawilla diz que o senhor era beneficiár­io de propina para a compra de direitos econômicos da Copa do Brasil e que continuou ganhando mesmo depois de sair da CBF.

Isso começa na Copa América de 2011, quando a Traffic perde o contrato do torneio e decide entrar na Justiça contra todas as dez federações do continente. Quando eles fizeram isso, a Conmebol exigiu que todos as confederaç­ões rompessem com a Traffic. A empresa tinha com a CBF o contrato da Copa do Brasil e o television­amento da seleção brasileira.

Chamei o Kleber [Leite, dono da Klefer e ex-presidente do Flamengo], e ele me deu 20% acima do que a Traffic me pagava em dólar pela Copa do Brasil. Não consigo entender essa lógica. Eu rescindo o contrato e a Traffic continua me pagando comissão por contrato. Isso tem lógica? A lógica dele é que o senhor manteve a estrutura de poder. Colocou o José Maria Marin no seu lugar [pelo estatuto da CBF, o vice mais velho assume o poder em caso de renúncia]. Tem também a gravação de conversa do Hawilla e do Kleber Leite discutindo o valor da propina ao senhor.

Isso é o que ele justifica. Eu rescindi o contrato com ele e passei o negócio para a Klefer. Mais na frente, a Klefer acertou com a Traffic uma parceira no contrato. Não tenho nada com isso. Já estava fora da CBF desde 2012. Como vou romper o contrato e ganhar comissão? Isso não existe. É ridículo. Como encara o depoimento da Hawilla, parceiro da CBF por anos, dizendo que o senhor recebeu milhões em propina?

Ele está completame­nte descompens­ado e quer solucionar o problema dele. Olha a carta que a Traffic mandou para a Klefer em 2015 [após as prisões na Suíça]. Nela [mostrando o documento], a Traffic diz que o senhor J.Hawilla está fora da empresa. Fala que a empresa desconhece o teor da delação nos EUA e diz que quer retomar a parceria com a Klefer. A carta é assinada pelo filho dele, o Stefano de Menezes Hawilla. O senhor é acusado por outros depoentes de receber. Quanto o senhor ganhou em propina? A Justiça do Rio está apreciando um recurso do senhor contra o Banco do Brasil. O pedido é para que o banco aceite receber cerca de US$ 22 milhões que estavam na conta de um banco em Mônaco.

Foi um dinheiro que fiz no Brasil, declarado no meu Imposto de Renda. Essa quantia foi transferid­a oficialmen­te para o exterior, quando fui morar fora [após renunciar em 2012]. Tenho a entrada dele também na CBF. Eu mandei esse dinheiro para [o banco em Mônaco] quando fui morar nos EUA. Estou de volta ao Brasil e quero de volta. Por que o Banco do Brasil não quer receber?

Não é isso. Eu já trouxe um monte [de dinheiro]e vou trazer mais esse restante. É minha única conta no exterior. E a origem do dinheiro dessa conta?

Era o dinheiro que ganhava aqui. Eu recebia também da Fifa no Brasil [o cartola foi presidente do Comitê Organizado­r da Copa e integrante do Comitê Executivo da Fifa]. Eu

Nunca. Não acredito nisso. Isso é mais uma mentira. Não tenho procuração da Globo, mas isso não existe.

Digo mais. Todas vez que participei de reuniões da Globo na Fifa, eles nunca nem me pagaram passagem. Ia com a passagem paga pela CBF. Del Nero diz que nunca recebeu propina e alega que os contratos suspeitos foram assinados pelo senhor ou pelo Marin.

Esses contratos foram realmente feitos na minha gestão e foram reformados por ele. Não sei como foi feito, nunca voltei à sede da CBF. você se cansa de falar as coisas. Teve um argentino [Alejandro Buzarco, da Torneos y Competenci­as] que disse que me pagava propina. Nunca vi esse cara. Isso não existe. E depois tem outra. Me deu a comissão? Mostra. Diz o banco. Diz a data. Manda o governo americano mostrar o papel. Agora, o Hawilla disse que mandou dinheiro em meu nome para contas bancárias em Hong Kong e Jerusalém. Nunca tive nada nesses países. Me mostre esse dinheiro. O senhor pensa em fazer uma delação nos EUA?

Não recebi nada. É uma pena que está acontecend­o com o Sandro, que fez um belo trabalho no Barcelona, na Nike e na ISL [antiga agência de marketing da Fifa].

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Paulo Nicolella - 16.ago.2016/ Agência O Globo Ricardo Teixeira em enterrro de João Havelange

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