Folha de S.Paulo

Chega de mudar

- PAULO VINÍCIUS COELHO

RAÍ SERÁ o quarto diretor de futebol do São Paulo em dois anos. Gustavo de Oliveira, seu sobrinho, deixou o cargo por razões políticas em setembro de 2016. Marco Aurélio Cunha ocupou a função até o fim da Florida Cup, em janeiro desse ano, Vinicius Pinotti ficou de abril a dezembro.

No vestiário, mudanças demais têm impacto negativo. Jogador de futebol é um operário que se tornou artista. Precisa do chefe exigente da fábrica e testa sua autoridade todos os dias.

As mudanças seguidas de diretores produzem novos testes, para entender qual o limite do novo chefe. Raí foi líder quando vestiu a braçadeira de capitão do São Paulo. Mas nunca precisou ser mestre de obras. Precisará. Seu risco é ser engolido por uma estrutura viciada. Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, não tem de estar todos os dias no vestiário, mas gosta de fazer os negócios e sentar-se nas mesas para contratar jogadores. Raí vai pensar o futebol macro, o estilo e o caminho. Mas, se a estrutura permanecer como tem sido, terá pouca autonomia para dizer: isto sim, aquilo não.

Se o cargo virar decorativo, não será bom. Raí precisa ter liderança, entrar no vestiário, definir as regras, cobrar resultados e ser cobrado por eles. Precisa ter autonomia e mostrar que sabe o que fazer com ela.

Logo depois da eleição de Marcelo Portugal Gouvêa, em 2002, Raí ocupou um cargo na direção sãopaulina. Ficou apenas três meses. As razões eram parecidas. Raí não conseguiri­a interferir no início da gestão de Marcelo Portugal Gouvêa, que levou ao último título da Libertador­es e ao Mundial. Raí podia pensar, apenas.

É o mesmo risco agora. Quem costuma participar das negociaçõe­s de jogadores para o elenco do São Paulo, junto com Leco, é o advogado Alexandre Pássaro.

Com toda a complexida­de da nova função, o problema de Raí é menor do que o do São Paulo.

As trocas sucessivas de treinadore­s e dirigentes diminuem as chances de recuperaçã­o de um clube que só conquistou um título nesta década e alcançou seu maior jejum desde que terminou a obra do Morumbi, em 1970.

São 14 passagens de treinadore­s depois do título brasileiro de 2008.

O Palmeiras teve treze, o Santos onze, o Corinthian­s oito, o Real Madrid seis, o Barcelona cinco.

Quanto menos mudanças, mais sucesso.

Claro que a receita não é assim, matemática. Mas a coerência ajuda e foi o que mais faltou ao São Paulo nos últimos dez anos. Mudam técnicos, mudam dirigentes e não muda o resultado ruim, desde a Copa Sul-Americana de 2012.

O mínimo para o próximo ano é manter o treinador Dorival Júnior e reforçar o elenco em posições chave. Neste ano, o risco de rebaixamen­to esteve diretament­e ligado ao excesso de modificaçõ­es no grupo de jogadores.

Maicon, Thiago Mendes, João Schmidt, Cícero, Luiz Araújo, Lucão, Chávez, Douglas e Wesley são todos nomes que começaram o Brasileiro jogando pelo São Paulo.

Arboleda, Petros, Hernanes, Edimar e Marcos Guilherme não estavam no elenco na primeira rodada do Brasileiro.

Além de mudar o diretor de futebol e o técnico, o São Paulo muda o elenco incessante­mente. A chance de dar certo assim é nenhuma.

Além de mudar diretor e técnico, o São Paulo muda o elenco sem parar; a chance de dar certo é nenhuma

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