Folha de S.Paulo

‘Pode ser gay, o problema é aparentar’

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DO ENVIADO AO RIO

Ex-jogador do Botafogo, onde foi goleiro da equipe de juniores entre os anos de 2001 e 2002 e chegou a subir para o time profission­al, o mineiro Douglas Braga, 35, teve seu destino traçado pelo preconceit­o.

Homossexua­l, viu-se dividido entre o sonho de jogar bola e o da própria aceitação como pessoa.

Optou por escolher uma vida “sem mentiras” e, após um casamento de sete anos com um homem, há três meses voltou ao esporte como zagueiro da equipe BeesCats Soccer Boys, do Rio de Janeiro.

Das poucas lembranças que guarda vestido com a camisa azul do time está uma foto de quando sentou no banco de reservas da equipe principal na partida com o Atlético-PR, no Maracanã, no Campeonato Brasileiro de 2001.

“Não era assumido nessa época, então foi muito difícil lidar com minha sexualidad­e e ter de me esconder dos outros. No futebol você é meio obrigado a fazer as mesmas coisas que todo mundo faz.”

“Quando se ganha um campeonato, a comemoraçã­o tem de ser com as meninas, em hotéis. Nessa época, tive poucos amigos, vivia um personagem e não tinha a noção de que isso pesava tanto. Percebi que não estava mais feliz.”

Pouco a pouco, Braga foi deixando a paixão pelo esporte de lado quando percebeu que não daria conta da vida dupla nem da pressão de trabalhar em um ambiente que não aceitasse sua condição.

Segundo ele, no futebol “você pode ser gay, mas não pode aparentar. O preconceit­o diminuiu, mas ele ainda está bem vivo. O futebol é um esporte machista e as coisas melhoram a passos muito, muito lentos”, afirma Braga. (PD)

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