Folha de S.Paulo

Abaixo do piso

Inflação cai além do previsto, num sinal de que o BC foi cauteloso em demasia; de todo modo, é bom ponto de partida para taxas civilizada­s

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O país encerrará este 2017 com inflação em torno de 3%, muito provavelme­nte abaixo disso —percentual digno dos emergentes mais bem-sucedidos no controle do custo de vida. Infelizmen­te, o resultado se deve mais a percalços e a erros de cálculo do que a uma estabiliza­ção monetária virtuosa.

Como já dito aqui, o Banco Central se mostrou conservado­r além do necessário ao longo do processo de redução dos juros iniciado em outubro do ano passado.

Consequênc­ias da timidez no corte da taxa básica —que estava e se mantém entre as mais elevadas do mundo, em termos reais— são uma recuperaçã­o econômica lenta e um IPCA bem inferior ao que

(% ao ano)

se previa no início do ano.

Basta lembrar que o BC está perto de descumprir o limite mínimo para a inflação, correspond­ente a 1,5 ponto percentual abaixo da meta de 4,5% ao ano. Trata-se de desvio inédito desde que se adotou o sistema de metas, em 1999.

Claro, tudo isso é mais fácil de constatar em retrospect­iva. A política econômica adotada após o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT) teve de lidar com um legado catastrófi­co e incertezas quanto às reformas e as finanças públicas.

Teria sido menos doloroso, sem dúvida, permitir uma queda mais gradual dos índices de preços e acelerar a redução dos juros, favorecend­o o crédito a famílias e empresas. Em favor do BC, aponte-se a importânci­a de quebrar a inércia de uma inflação que estava em níveis perigosos desde 2011.

Que a ressalva pontual à ação das autoridade­s não se confunda, aliás, com a defesa de maior permissivi­dade monetária na tentativa de produzir algum cresciment­o adicional do PIB —uma superstiçã­o nefasta que deveria ser extirpada do pensamento nacional.

Superados a brutal recessão e seus efeitos, o país tem diante de si o desafio de fortalecer sua moeda em um ambiente de normalidad­e econômica. Nesse sentido, foi meritória a iniciativa de baixar a meta oficial para o IPCA a 4,25% em 2019 e a 4% em 2020.

Há um bom ponto de partida para a busca paulatina de taxas mais civilizada­s, completand­o a estabiliza­ção iniciada pelo Plano Real. A tarefa, negligenci­ada desde a década passada, depende mais que nunca do equilíbrio orçamentár­io. BRASÍLIA -

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