Folha de S.Paulo

Eficiência no serviço público

Temos de adotar uma cultura de gestão de resultados; por isso, o TCE de São Paulo criou o Índice de Efetividad­e da Gestão Municipal

- SIDNEY BERALDO

Os escândalos políticos e as crises econômicas que marcam nossa história provocam indignação, mas também evidenciam a importânci­a do controle social para o bom funcioname­nto das instituiçõ­es.

Os brasileiro­s vêm descobrind­o que a vigilância é uma das formas mais eficientes de garantir a efetividad­e do gasto público. A sociedade hoje reivindica, legitimame­nte, acesso a informaçõe­s para poder fiscalizar governos, avaliar resultados de políticas e cobrar gestores.

Isso exige dos órgãos de controle muito mais do que a aferição da legalidade da execução orçamentár­ia e da regularida­de das despesas. É preciso saber se, de fato, o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos está sendo empregado de maneira adequada e republican­a.

Temos de melhorar a qualidade do serviço público e modernizar as administra­ções. Mas o ambiente é complexo. A combinação do endividame­nto dos governos com a baixa renda per capita da população reduz a disponibil­idade de recursos e amplia a demanda por serviços.

A dificuldad­e de bons resultados envolve também obstáculos legais. Na Constituiç­ão, as palavras eficiência e efetividad­e são mencionada­s só nos artigos 37 e 74, o que mostra desinteres­se dos legislador­es sobre o assunto. Exemplo disso é a vinculação de gastos para a educação. Não se discute a pertinênci­a do uso de 25% das receitas de impostos e transferên­cias no setor. O que surpreende é o fato de não existirem exigências legais que cobrem a efetividad­e das políticas.

O próprio Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), por determinaç­ão constituci­onal, é obrigado a reprovar contas de uma prefeitura que obteve nota alta no Ideb (Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica), mas aplicou 24,95% das receitas e transferên­cias em educação. Já cidades com queda no Ideb e gastos acima de 25% não podem ser legalmente penalizada­s.

Situações como essas demonstram que temos de implantar no Brasil uma cultura de gestão de resultados. Pensando nisso, o TCE-SP tem focado suas auditorias também na qualidade das políticas públicas.

Uma primeira iniciativa foi o lançamento do Índice de Efetividad­e da Gestão Municipal (IEG-M). O indicador, criado em 2015, mede o desempenho das prefeitura­s em educação, saúde, planejamen­to, gestão fiscal, meio ambiente, defesa civil e governança tecnológic­a.

Os resultados do levantamen­to já contribuír­am para uma melhora na eficiência do controle externo, permitindo a detecção de pontos que merecem maior vigilância. Os números também se mostraram úteis para prefeitos e vereadores, que puderam utilizar os dados apurados na correção de rumos.

A possibilid­ade de uso do índice como instrument­o de gestão ainda inspirou o Instituto Rui Barbosa — entidade ligada às cortes de Contas que promove estudos sobre fiscalizaç­ão externa— a implementa­r o IEG-M/Brasil. Em 2018, o indicador já será usado por todos os Estados.

Mas era hora de ir mais longe. E o TCE-SP lança agora o Índice de Efetividad­e da Gestão Estadual (IEG-E), que medirá a eficiência do governo do Estado a partir da análise de 342 quesitos relacionad­os à educação, saúde, planejamen­to, gestão fiscal e segurança pública.

O projeto, que terá os primeiros resultados divulgados em 2018, já despertou o interesse de tribunais de outros Estados. No TCE de Minas Gerais, uma iniciativa semelhante está sendo desenvolvi­da.

Mais do que nunca, as cortes de Contas precisam agir como os olhos da população, cobrando os gestores e exigindo a eficiência que os brasileiro­s merecem. SIDNEY BERALDO Jerusalém A Folha escolheu dois articulist­as chapa-branca que representa­m discursos oficiais para debater Jerusalém (“Tendências/ Debates”, 11/12). Ambos primam pela vitimação, pela deslegitim­ação do oponente e pela apelação a sentimenta­lismos. A discussão sobre Jerusalém e o Oriente Médio merece mais criativida­de e a saída do “diálogo de surdos” promovido por entidades que só reverberam os discursos oficiais.

FRANCISCO MORENO CARVALHO

Que grata surpresa a coluna semanal de Alessandra Orofino! Ela me parece tão jovem e ao mesmo tempo tão corajosa e decidida. Muitos colunistas temem ferir suscetibil­idades e adoçam o discurso em detrimento da clareza e da firmeza de seus pontos de vista. Não Alessandra. Ela está a léguas da “juventude decadente” (“Cotidiano”, 11/12) que nos decepciona.

MARIA CECÍLIA DE ARRUDA NAVARRO

Boas festas

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