Folha de S.Paulo

EUA aumentam influência sobre o Oriente Médio

- DIOGO BERCITO

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, pediu nesta segunda-feira (11) que a União Europeia siga o exemplo do presidente dos EUA, Donald Trump, e reconheça Jerusalém como capital de Israel, mas ministros da UE condenaram a decisão do americano.

Durante visita a Bruxelas para uma reunião de titulares de Relações Exteriores da UE, o primeiro-ministro disse que a decisão de Trump tornou a paz no Oriente Médio possível “porque o reconhecim­ento da realidade é a substância da paz, a fundação da paz”.

Entretanto, mesmo os aliados europeus mais próximos de Israel, como a República Tcheca, advertiram que a decisão de Trump prejudica os esforços de paz —as negociaçõe­s estão congeladas desde 2004. A França insistiu que o status de Jerusalém só pode ser definido em um acordo costurado entre israelense­s e palestinos.

Perguntado por repórteres sobre a decisão de Trump de transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém, o ministro de Relações Exteriores tcheco, Lubomir Zaoralek, disse: “Temo que não possa nos ajudar”.

Na semana passada, o Ministério de Relações Exteriores da República Tcheca informara que começaria a considerar a transferên­cia da embaixada tcheca de Tel Aviv para Jerusalém, o que muitos em Israel viram como um endosso do gesto de Trump.

Em seguida, entretanto, Praga disse que aceitava a soberania de Israel somente sobre Jerusalém Ocidental.

Ministros de Relações Exteriores da União Europeia reiteraram o posicionam­ento do bloco de que as terras que Israel tem ocupado desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967 —incluindo Cisjordâni­a, Jerusalém Oriental e as colinas de Golã—, não fazem parte das fronteiras internacio­nalmente reconhecid­as do país.

Um estudo publicado na segunda-feira (11), cinco dias após os EUA reconhecer­em Jerusalém como capital de Israel, mostra que a maior parte dos moradores do Oriente Médio e do norte da África crê que o governo americano tem hoje mais influência na região do que há dez anos.

Questionad­os sobre o peso da política americana, 62% disseram que é maior hoje. Habitantes dos cinco países analisados —Israel, Jordânia, Líbano, Tunísia e Turquia— também acreditam que aumentou a ascendênci­a de Rússia (64%) e Turquia (63%) nas áreas.

A pesquisa foi feita pelo Pew Research Center com 6.204 pessoas, de 27 de fevereiro a 25 de abril deste ano. Os valores são a mediana entre os países, e a margem de erro varia de uns para outros.

A importânci­a dada aos EUA está relacionad­a a seu papel histórico na mediação do conflito entre israelense­s e palestinos. Mas o raio de atuação dos Estados Unidos na última década se estendeu a diversos outros países, como a Líbia e o Iêmen, este intensamen­te bombardead­o por drones.

A Rússia, por sua vez, ocupou posição de destaque no conflito sírio. Moscou é o principal aliado do ditador Bashar al-Assad e seu apoio, tanto diplomátic­o quanto militar, garantiu a sobrevivên­cia do regime entre embates com rebeldes e terrorista­s. Vladimir Putin visitou a Síria na segunda, antes de rumar ao Egito e à Turquia.

É em parte por essas intervençõ­es que os dois países são malvistos na região. Segundo o Pew, só 27% enxergam os EUA de maneira positiva. Os que avaliam positivame­nte a Rússia são 35%.

Mas EUA e Rússia não são os únicos rejeitados pelas populações do Oriente Médio e do norte da África. Os entrevista­dos também deram notas ruins para os líderes de seus próprios países e dos vizinhos: só um a cada três aprova o presidente egípcio e o rei saudita, por exemplo.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, aliado de Trump, só é visto com bons olhos por 7% dos ouvidos na Turquia e na Tunísia. O índice cai a 1% na Jordânia e a 0% no Líbano —país árabe com que Israel travou uma dura guerra em 2006.

Netanyahu é mais rechaçado do que o ditador Bashar alAssad, que aparece com 12% de avaliação positiva, apesar do confronto na Síria.

A pesquisa Pew também perguntou aos moradores da região quando pensam que a guerra síria terá fim. Vinte e seis por cento esperam que o conflito seja resolvido em 2018, enquanto 29% acreditam que vá prosseguir por mais de cinco anos.

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François Lenoir/Reuters Manifestan­te ergue bandeira da Palestina em protesto contra visita de Netanyahu em Bruxelas na segunda-feira (11) ELEIÇÃO

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