Arábia Saudita libera cinemas públicos depois de 35 anos
DA ASSOCIATED PRESS
Após mais de 35 anos de proibição, a Arábia Saudita anunciou nesta segunda-feira (11) que vai permitir, a partir de 2018, a abertura de cinemas públicos no país.
A medida é mais uma reforma liberalizante conduzida no âmbito da consolidação do poder do príncipe herdeiro Muhammad bin Salman, que se fortaleceu após um expurgo em novembro.
Em setembro, MBS (sigla pela qual é conhecido) foi um dos responsáveis pelo fim da proibição de que mulheres dirijam no país. Ele também deu fim à proibição de concertos e outros espetáculos.
Os cinemas sauditas foram fechados nos anos 1980 durante uma onda de ultraconservadorismo. Na visão de muitos dos clérigos locais, filmes ocidentais e até produções árabes feitas no Egito seriam pecado. Um dos motivos mais citados para a proibição é o de que cinemas seriam um espaço que permitiria o convívio não supervisionado de homens e mulheres, o que é proibido no país.
De acordo com o anúncio feito nesta segunda, uma resolução foi aprovada permitindo que licenças sejam concedidas a cinemas comerciais —os primeiros devem abrir em março de 2018.
Ainda de acordo com o governo, a abertura de cinemas vai contribuir com o equivalente a R$ 79 bilhões para a economia e criar mais de 30 mil empregos até 2030, quando deverá haver cerca de 300 salas no país.
Cineastas e cinéfilos conseguiam burlar a censura oficial transmitindo as obras pela internet e assistindo aos filmes na TV por satélite. Muitos também viajavam para países vizinhos, como os Emirados Árabes Unidos ou o Bahrein, para ir ao cinema.
Apesar de não existirem cinemas públicos na Arábia Saudita, jovens cineastas do país receberam apoio governamental e conquistaram reconhecimento recentemente.
Em 2013, o filme “Wadjda”, dirigido por uma mulher, Haifaa al-Mansour, fez história ao se tornar a primeira produção saudita a tentar uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro —mas não ficou entre as cinco finalistas.
O filme narra a história de uma garota de 10 anos que sonha em ter uma bicicleta igual à de seus amigos garotos no bairro conservador onde mora.
Ainda não está claro se os cinemas irão manter a segregação de gênero, com salas separadas para mulheres e homens.
Outra incógnita é se eles irão exibir filmes americanos, indianos e árabes em geral, ou se o conteúdo será estritamente escolhido pela censura oficial.
O Ministério da Cultura e Informação não respondeu a um pedido de comentário. O governo afirma que vai anunciar a regulação em breve.