Folha de S.Paulo

Orçamento curto leva a remanejame­nto de verba em 2018

- DANIEL CARVALHO MARIANA CARNEIRO JULIO WIZIACK

A campanha eleitoral do ano que vem influencio­u na reorganiza­ção dos gastos previstos no Orçamento de 2018.

A legislação proíbe contrataçõ­es de novas obras e repasses da União para projetos em Estados e municípios a partir de julho de 2018. Assim, pastas ligadas à infraestru­tura, como Transporte­s e Cidades, ficariam com dinheiro em caixa que não poderia ser gasto —é dinheiro é algo escasso no caixa.

Afora a queda na arrecadaçã­o, a União precisa cumprir a regra do teto de gastos. Aprovada no ano passado, ela determina que o governo só poderá aumentar a despesa pela inflação do ano anterior (até julho). Em 2018, o limite de aumento é de 3%.

Diante da realidade mais dura, o trabalho dos deputados se concentra no remanejame­nto de verbas. Recursos destinados a obras foram reduzidos e realocados em áreas como assistênci­a social e segurança pública.

O relator do Orçamento no Congresso Nacional, deputado Cacá Leão (PP-BA), disse que a readequaçã­o de despesas seguiu como critério a execução orçamentár­ia de 2017, no qual os gastos ficaram bem abaixo do previsto.

“O governo mandou um valor, houve um corte prévio e eu executei outro corte para a realidade”, disse.

“[Fiz isso] para pegar a sobra orçamentár­ia e colocar numa outra coisa que estava abaixo do que foi executado em 2017.”

Um exemplo é o Minha Casa, Minha Vida, que tinha cerca de R$ 5 bilhões previstos neste ano, mas, segundo Leão, só deve gastar R$ 3 bilhões.

Para o ano que vem, segundo o relator, a verba destinada ao programa será próxima ao valor executado em 2017.

“Fui em cima do número do realizado”, disse.

A métrica manterá o programa com a verba apertada. Para ajustar as contas e reduzir despesas, o governo comprimiu os gastos em investimen­tos ao patamar mais baixo em mais em dez anos.

Se o Minha Casa vai sofrer cortes, em contrapart­ida, o deputado disse que elevará em cerca de R$ 300 milhões o gasto com assistênci­a social.

O dinheiro vai para o Sistema Único de Assistênci­a Social, que repassa recursos para Estados e municípios.

Mesmo assim, Leão afirma não ter conseguido atender as demandas de ministros que queriam evitar cortes.

“Para resolver o problema da assistênci­a social, tem que ter R$ 1 bilhão. Eu não tenho R$ 1 bilhão para resolver tudo”, afirmou. “Ciência e Tecnologia é outra área que tem uma pressão grande. Mas também é R$ 1 bilhão para resolver. Não tem.”

Contrarian­do expectativ­as de colegas, Leão também não aumentou o fundo eleitoral para as campanhas. O valor ficará no já previsto R$ 1,7 bilhão. “Coloquei a lei. Não tinha folga para colocar mais.”

Ele tinha se comprometi­do em entregar o relatório nesta segunda (11) à Comissão Mista de Orçamento, para colocar o texto em votação nesta terça (12). Porém, o texto não havia sido entregue até a conclusão desta edição.

O deputado também deverá reduzir a previsão de cresciment­o para 2% (como a enviada pelo governo). No relatório de receitas, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) havia inflado o cresciment­o para 2,5% —e consequent­emente as receitas previstas. CORTE ESPERADO O presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, afirmou que o encolhimen­to de verbas públicas já era esperado.

Segundo ele, o governo deve destravar o investimen­to privado. Uma das principais demandas é o aumento do capital da Caixa. O banco está segurando o crédito imobiliári­o por falta de capital.

A medida foi aprovada na Câmara e agora esta tramitando no Senado.

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Pedro Ladeira - 23.nov.2017/Folhapress Conjunto habitacion­al do Minha Casa, Minha Vida no Distrito Federal; verba para programa deve ser reduzida em 2018

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