Folha de S.Paulo

As três maiores empreiteir­as atingidas pela Lava Jato —Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa— também negociam leniência

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O Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União, a AGU (AdvocaciaG­eral da União) e o Ministério Público Federal concluíram um novo acordo de leniência com a empresa holandesa SBM Offshore, operadora de plataforma­s para exploração de petróleo que admitiu ter pago milhões de dólares em propina para conseguir contratos da Petrobras.

Atingida pela Operação Lava Jato, a empresa fechou o primeiro acordo com o Ministério da Transparên­cia em julho do ano passado, prometendo fornecer informaçõe­s sobre irregulari­dades e pagar US$ 340 milhões (o equivalent­e a cerca de R$ 1 bilhão) para poder voltar a fazer negócios com a Petrobras, uma das suas principais clientes.

Mas uma câmara revisora do Ministério Público barrou o acerto em setembro, apontando falhas nas cláusulas negociadas pelo governo e pelos procurador­es do Rio de Janeiro que acompanhar­am as conversas. As autoridade­s voltaram então à mesa de negociaçõe­s com a SBM e nos últimos meses reviram várias cláusulas, mantendo os valores acertados com a empresa.

Para que o acordo seja assinado, falta o aval dos ministros do TCU (Tribunal de Contas da União), órgão de controle externo ligado ao Congresso. Auditores do TCU que o examinaram emitiram parecer contrário ao acordo, que será discutido em sessão reservada dos ministros do tribunal nesta terça-feira (12).

Outros órgãos de controle e advogados de empresas investigad­as pela Lava Jato têm apontado o TCU como principal obstáculo à viabilizaç­ão dos acordos de leniência, me- canismo criado em 2013 pela Lei Anticorrup­ção para acelerar investigaç­ões e oferecer benefícios às empresas que cooperarem com a Justiça.

No centro da polêmica está a necessidad­e de reparação dos danos causados pela corrupção. A lei obriga o TCU a cobrar reparação integral dos prejuízos sofridos pelos cofres públicos, mas não existe consenso sobre a melhor maneira de calculá-los e as controvérs­ias sobre o tema em geral acabam na Justiça.

A primeira versão do acordo com a SBM garantia à empresa quitação integral de danos, independen­temente da análise que o TCU fizesse mais tarde ao examinar seus contratos com a Petrobras. A nova versão do acordo corrige essa cláusula para deixar claro que o valor final da reparação dependerá do TCU.

Os números definidos pelo novo acerto incluem pagamentos que a SBM deve fazer à Petrobras e descontos nos valores que ela tem a receber em contratos firmados com a estatal antes da Lava Jato. Se um dia o TCU concluir que os danos são maiores do que US$ 340 milhões, a SBM poderá discutir a cobrança com o órgão ou recorrer à Justiça.

A empresa fez um acordo de US$ 240 milhões com as autoridade­s holandesas há dois anos, e há duas semanas topou pagar mais US$ 238 milhões ao Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos para se livrar de ações criminais. Além do Brasil, a SBM admite ter pago suborno em Angola, no Cazaquistã­o, na Guiné Equatorial e no Iraque. EMPREITEIR­AS com o Ministério da Transparên­cia, que em julho celebrou acordo de R$ 574 milhões com a UTC, outra que admite ter pago propina na Petrobras.

Dezenas de executivos dessas empresas fecharam acordos de delação premiada com a Lava Jato em troca da redução de suas penas na esfera criminal. As três maiores já firmaram leniência com os procurador­es, mas agora também precisam negociar com o governo federal para poder voltar a participar de licitações públicas e recuperar acesso a crédito oficial.

Num processo que examina fraudes ocorridas na construção da usina nuclear Angra 3, o TCU ameaça declarar essas empresas inidôneas, o que pode impedi-las de voltar a contratar com o setor público. As empresas tentam abrir negociaçõe­s com o tribunal, que só voltará a analisar o caso no próximo ano.

 ?? Rafael Andrade - 7.out.2010/Folhapress ?? Plataforma de exploração de petróleo construída para a Petrobras e operada pela SBM OPERAÇÃO BAIXO AUGUSTA
Rafael Andrade - 7.out.2010/Folhapress Plataforma de exploração de petróleo construída para a Petrobras e operada pela SBM OPERAÇÃO BAIXO AUGUSTA

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