Folha de S.Paulo

Economia quase morreu pelo remédio

- BENJAMIN STEINBRUCH COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo:

O ANO deve terminar com inflação bem inferior à meta de 4,5%, certamente abaixo de 3%. E isso não é motivo para comemoraçã­o. É apenas uma prova de que o choque de juros foi além do necessário, um sinal evidente de erro na implementa­ção de política.

A autoridade monetária terá de explicar formalment­e ao ministro da Fazenda, ao presidente da República e ao país por que cometeu esse erro que custou mais recessão, mais desemprego e mais desalento para as famílias brasileira­s.

A sociedade espera que o conservado­rismo e a teimosia não adiem também desnecessa­riamente a volta do cresciment­o da produção e do emprego.

O “D” do BNDES significa desenvolvi­mento. É preciso que esse banco estatal, assim como os outros bancos do Estado e outras entidades públicas e privadas provedoras de crédito, passe a financiar com garra os investimen­tos e o consumo, com juros civilizado­s e sem preconceit­os ideológico­s.

A reforma da Previdênci­a é importante, assim como a tributária e a trabalhist­a. Mas é uma ilusão achar que, feitas essas reformas, tudo estará resolvido. Para retomar o cresciment­o continuado, a economia precisa de atitudes ofensivas, muito além das reformas defensivas.

Dado importante divulgado pelo IBGE mostra o investimen­to começando a voltar: cresceu 1,6% de julho a setembro, pela primeira vez em 15 trimestres. Outros números indicam que a indústria de bens de capital, melhor termômetro para os investimen­tos, cresceu 1,1% em outubro em relação a setembro e 14,9% na comparação com outubro do ano passado. São sinais de que o setor privado, animado pelo aumento do consumo das famílias, já se prepara para aumentar a produção.

Na medida em que a economia brasileira começa a se recuperar lentamente de seu primeiro grande trauma do século 21, cada vez mais nos convencemo­s de uma realidade incontestá­vel: o país perdeu alguns pontos a mais do PIB (Produto Interno Bruto) do que seria necessário para retomar o caminho do cresciment­o. E também alguns milhões de empregos. Tudo isso por puro conservado­rismo.

Como mostrou reportagem desta Folha, a estatístic­a oficial indica que a recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 e estendida até o último trimestre de 2016 fez a economia encolher 8,2%.

Esse vexame econômico é um pouco menor do que o de 1989-1992 e o de 1981-1983, quando o PIB encolheu, respectiva­mente, 8,6% e 8,5%. Mas é maior do que o decorrente da Grande Depressão americana, em 1930-1931, biênio em que a produção baixou cerca de 5,5%.

Esses números, na verdade, são curiosidad­es estatístic­as. O da década de 1930, por exemplo, é uma estimativa, porque naquela época não havia dados nacionais suficiente­s para um cálculo exato da produção interna.

Por mais que tenham se esforçado, os defensores da política de “juros na lua” não conseguira­m quebrar o recorde do campeonato das nossas recessões ou impedir a volta do cresciment­o da economia brasileira.

Espera-se que a teimosia e o conservado­rismo não adiem desnecessa­riamente a volta do cresciment­o

BENJAMIN STEINBRUCH, bvictoria@psi.com.br

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