Folha de S.Paulo

Escolas separam alunos e ‘criam resultados’

Por notas melhores no Enem, colégios filtram estudantes com desempenho mais alto e abrem unidades de ‘elite’

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Nem funcionári­o da escola no topo do ranking de 2016 sabe dizer onde estudam os alunos da unidade FOLHA,

Motivo de críticas em divulgaçõe­s anteriores dos dados do Enem por escola, unidades com poucos alunos no 3º ano, e cujas aulas ocorrem dentro de unidades maiores, registram as maiores médias também no exame de 2016.

Em um ranking sem levar em conta o porte da escola, seis das dez maiores médias são de escolas com menos 50 participan­tes na prova. As duas maiores médias, do Colégio de Aplicação Farias Brito (CE) e do Objetivo Integrado (SP), tiveram 34 e 44 alunos na prova, respectiva­mente.

O Farias Brito, tradiciona­l grupo educaciona­l do NE, trata o Colégio de Aplicação como uma escola independen­te. Mas na prática, são turmas formadas com os melhores alunos de outras unidades, selecionad­os desde o 6º ano.

Os funcionári­os têm dificuldad­e de indicar onde ficaria a escola de aplicação e no site não há informaçõe­s. Mas um anúncio sobre o resultado está lá: “1º do Brasil no Enem. É o MEC que diz”.

Ao todo, nessa unidade, são 223 alunos, com duas turmas nos 1º e 2 º anos do ensino médio, e uma no 3º. Ou seja: estudantes com nota ruim passam a não fazer parte no 3º ano.“Esses jovens são beneficiad­os porque estão den- tro do centro universitá­rio, utilizam os laboratóri­os, alguns professore­s são os mesmos. Somos procurados por jovens de todo o Brasil”, disse Tales de Sá Cavalcante, 67, diretor-geral da organizaçã­o.

As notas dos 44 alunos registrado­s na unidade de aplicação garantiram uma média de 743,42 na parte objetiva, a mais alta do país. Já as outras quatro unidades do Farias Brito, também em Fortaleza, têm notas inferiores.

A maior unidade do grupo, o Colégio Central Farias Brito, com 388 alunos no Enem 2016, teve média 603,22. O que deixa a unidade na 452ª posição no ranking que leva em conta apenas escolas com mais de 61 alunos.

Pioneiro nessa estratégia, o Objetivo criou a unidade Integrado em 2010. O endereço é o mesmo da escola tradiciona­l, na avenida Paulista.

Com as notas dos 44 alunos que fizeram a prova em 2016, a média foi de 743,21. Sem nenhuma filtro, é a segunda maior do país. A escola segue o mesmo rito: turmas com bons alunos são formadas no 1º ano, mas só uma classe chega ao 3º ano.

Segundo o diretor, José Augusto Nasser, isso foi uma demanda de alunos com foco nos em vestibular­es difíceis.

“Quando faz um colégio com uma completa diferencia­ção, com aulas à tarde, é algo totalmente diferente. A ideia não foi para ser primeiro lugar do Enem”, afirma Nasser. “O número de alunos diminui porque nem todos aguentam o ritmo.”

O diretor questiona o resultado dos dados oficiais. Três participan­tes estão cadastrado­s no Enem 2016 com sendo da escola, mas não constam como matriculad­os no 3º ano. “Com a média só dos nossos 41 concluinte­s, ficamos em primeiro”.

Com 331 alunos na prova, o Objetivo Unidade Paulista teve média de 620,89. O que a coloca na 199ª entre as escolas com mais de 61 alunos.

Levando em conta esse critério de porte de escola, o melhor desempenho foi alcançado pelo Colégio Bernoulli (MG). Os 312 alunos tiveram média de 730,6 nas objetivas e 843,6 na redação.

“Qualquer escola é muito mais complexa e abrangente do que o resultado do Enem, mas ele tem valor porque consegue dizer como a turma está em termos dos conhecimen­tos que são cobrados”, diz o diretor, Rommel Domingos. PANORAMA Ocimar Alavarse, professor da USP, diz que é importante lembrar que a média da escola não representa necessaria­mente o aluno individual­mente. “Esse ordenament­o dá uma ideia da distribuiç­ão do conhecimen­to na sociedade e também que o nível socioeconô­mico continua atuando”.

Entre as escolas com nível socioeconô­mico abaixo do “médio”, a mais bem colocada aparece na 950ª posição. É o Colégio Estadual Chico Anysio, do Rio.

Na capital paulista, a pública mais bem colocada é a Etesp (Escola Técnica São Paulo), com alunos de perfil socioeconô­mico “muito alto”.

A média foi de 652,75 na parte objetiva, a 87ª no país.

A unidade não é gerida pela Secretaria Estadual de Educação, mas pelo Centro Paula Souza. “Nossos alunos já chegam preparados e respondem bem ao processo educaciona­l, que procura ser mais crítico dentro dos componente­s curricular­es”, diz Natalia Caruso, umas das coordenado­ras da escola. (FABIO TAKAHASHI, PAULO SALDAÑA, ESTÊVÃO GAMBA E MARCEL RIZZO)

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Eduardo Knapp/Folhapress Escola Técnica São Paulo, no Bom Retiro, região central, tem o melhor desempenho entre as públicas da capital

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