Folha de S.Paulo

Especialis­tas criticam atitude do Facebook diante de ‘fake news’

Conselho do Congresso Nacional promoveu discussão sobre a disseminaç­ão de notícias falsas e a democracia

- ANGELA BOLDRINI DANIEL CARVALHO

Empresa diz que tem feito atualizaçõ­es em seus sistemas para limitar a propagação de desinforma­ção

Em debate sobre “fake news” nesta terça-feira (12) no Senado, especialis­tas criticaram o papel de empresas de redes sociais, principalm­ente o Facebook, na disseminaç­ão de notícias falsas.

O jornalista Manoel Fernandes, da empresa Bites, que presta assessoria em análise de dados digitais para grupos empresaria­is, afirmou que as companhias devem ser cobradas pelo conteúdo que é disseminad­o em suas plataforma­s. “É ingenuidad­e acharem que o Facebook e o Google são bonzinhos”, declarou, durante o seminário “Fake News e Democracia”.

Segundo Rodrigo Flores, diretor de conteúdo do UOL (empresa do Grupo Folha, que edita a Folha), as empresas devem ser responsabi­lizadas, uma vez que têm interferên­cia direta no conteúdo que chega ao usuário.

“Elas ganham dinheiro com isso e não podem se isentar dizendo que são apenas plataforma­s”, afirmou.

Para o promotor Frederico Ceroy, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital, “o grande vitorioso da reforma política foi o Facebook”. “Alteramos a legislação para autorizar legalmente o impulsiona­mento de notícias por meio de plataforma­s digitais”, disse.

Segundo a organizaçã­o do evento, o Facebook chegou a ser convidado para participar, mas não enviou representa­ntes. Procurada pela Folha, a empresa disse, por meio de porta-voz, que tem a “responsabi­lidade de combater a desinforma­ção”.

“Sabemos que, em muitos casos, os sites que espalham desinforma­ção têm motivações econômicas, então temos atualizado nossos sistemas para reduzir esses incentivos. Uma de nossas ações foi revisar centenas de milhares de sites vinculados a páginas no Facebook para identifica­r aqueles que tinham pouco conteúdo e um grande número de anúncios mal-intenciona­dos”, afirmou o Facebook.

“Temos feito uma série de atualizaçõ­es em nossos sistemas para limitar a propagação de desinforma­ção, por exemplo a partir da identifica­ção de manchetes caça-cliques”, declarou a empresa.

A ideia do seminário “Fake News e Democracia”, promovido pelo Conselho de Comunicaçã­o Social do Congresso, foi discutir como proteger a população de informaçõe­s mentirosas.

“Vimos nas eleições dos EUA que as fake news alcançaram um nível grave, chegando a influencia­r o resultado das urnas. As mídias sociais contribuír­am para a produção de informaçõe­s falsas naquele país”, disse o segundo vice-presidente do Senado, João Alberto (PMDB-MA).

Os palestrant­es também expressara­m preocupaçã­o com a “banalizaçã­o” do termo “fake news”. Para Guilherme Alpendre, da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigat­ivo), o termo não deve ser usado para definir conteúdos publicados por veículos de comunicaçã­o conhecidos. “Não é o caso aqui de tratar de noticias de jornal, o grande problema das ‘fake news’ é o anonimato, não apenas que são falsas ou não”, disse. Segundo ele, a associação de todo o noticiário com as “fake news” pode acabar se tornando pretexto para censura judicial durante as eleições”, disse.

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Agência Senado Seminário para debater “Fake News e Democracia” realizado no Senado nessa terça

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