Folha de S.Paulo

Já é Carnaval para o bloco de sujos

- VINICIUS TORRES FREIRE

O ANO POLÍTICO de 2018 começa mais cedo, com o julgamento de Lula da Silva em segunda instância marcado para 24 de janeiro. Mas o programa só acaba quando termina. A depender de Lula e do PT, o drama luliano e eleitoral em tese pode se arrastar até meados de setembro, quando termina o prazo para a substituiç­ão do candidato a presidente.

Pela lei eleitoral, se o candidato desistir de concorrer nos 20 dias anteriores ao da eleição, o partido não pode oferecer outro nome (a não ser em caso de morte). Mas, nestes tempos de leis polissêmic­as e politrauma­tizadas, sabe-se lá qual será a interpreta­ção e agilidade da Justiça nas decisões. De menos incerto, a gente sabe que a velocidade judicial para Aécio Neves é baixa.

Logo depois do primeiro capítulo do caso Lula, temporada 2018, o ano seguiria agitado, pois o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, marcou o início das discussões da reforma da Previdênci­a para dia 5 de fevereiro, uma segunda-feira (rir, rir, rir).

O Congresso deveria voltar a trabalhar no dia 2, sexta-feira (rir, rir, rir). Como isso é muito puxado, talvez então voltasse das férias no dia 7. Mas o dia 8 é “Quinta de Carnaval”, ao menos para desaperceb­idos da vida, relaxados, desocupado­s e alegres de todo o gênero. A Terça Gorda de Carnaval é no dia 13, o que exige emendar o feriado, claro.

Ou seja, engajados em um esforço legislativ­o, os parlamenta­res talvez reapareçam no dia 19, mesmo com um quê de purpurina nas carantonha­s. Maia e Temer dizem que pretendem votar a reforma da Previdênci­a no dia 19. Hum.

Alguém pode especular que, na hipótese de que o país estivesse em tumulto financeiro, por um azar qualquer da sorte, os deputados talvez tomassem tento e resolvesse­m dar um jeito nas contas públicas, seja qual for.

Foi mais ou menos assim na transição de 1998 para 1999. A princípio, o Congresso dava a mínima para o ajuste, até que o país começou a quebrar. No entanto, a crise era de contas externas, do tipo meio morte súbita. O desastre que vai sendo gestado agora é de ruína lenta, gradual e segura, pelo menos até que acabe o dinheiro para pagar aposentado­rias e salários ou se resolva partir para a inflação descarada.

Ao que parece, afora milagres, a reforma não deve ressuscita­r nem na Páscoa.

Trocando em miúdos, a hipótese de que possa haver uma definição do quadro eleitoral ainda em janeiro, fevereiro, é remota. A próxima data eleitoral relevante é dia 7 de abril, prazo-limite para a filiação partidária de quem pretende concorrer. Necessaria­mente, não é uma data relevante para o PT. Os planos C e B do partido, Jaques Wagner ou Fernando Haddad, são filiados. O caldo entorna para a definição dos demais partidos, tanto de candidatur­as presidenci­ais como de coligações nos Estados.

Difícil imaginar que o cálculo de uma pretensão presidenci­al deixe de levar em conta o que vai ser de Lula. Em certos Estados, em particular no Nordeste, o destino do expresiden­te pode mudar acertos de coligações locais. Como já é notório, muito “golpista”, do PMDB em particular, já se acertou com Lula.

Enfim, o Carnaval começa cedo e continua por um bom pedaço de 2018.

Julgamento de Lula e ano político curto e Congresso Nacional à deriva devem causar longo tumulto

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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