Folha de S.Paulo

Lulismo e antilulism­o

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O cresciment­o da candidatur­a Lula recolocou a luta de classes, ainda que refratada pela forma “ricos versus pobres”, no centro da conjuntura. Em vinte meses de acusações, denúncias e condenação —multiplica­da incessante­mente pela mídia—, o ex-presidente duplicou as intenções de voto. Para desespero dos que planejavam sacá-lo de cena de uma vez por todas.

Em março de 2016, no auge da campanha feita para tirar Dilma do Planalto, Lula alcançou o máximo de rejeição e o mínimo de adesão. Recusado, desde 2002, por cerca de um terço do eleitorado, o líder petista chegou, então, a ter 57% contra si. Era o momento em que as gravações divulgadas por Sergio Moro alcançavam o grande público e as manifestaç­ões pelo impeachmen­t reuniam multidões.

De lá para cá, contudo, Lula começou, de novo, a crescer. É como se, lenta e continuame­nte, a insatisfaç­ão causada pelo governo Temer tivesse escoado em direção àquele que simboliza um período de melhora, sobretudo para os mais pobres. É deles que veio a ressurreiç­ão do lulismo.

No ponto álgido do antilulism­o, apenas 23% dos que estavam na base da pirâmide de renda continuava­m fiéis ao criador da Bolsa Família. Agora, 45% dos que recebem até dois salários mínimos familiares mensais voltaram a depositar esperanças no ex-mandatário. O índice não está longe dos 55%, nessa faixa de renda, que optavam por Lula contra Alckmin às vésperas do primeiro turno de 2006, quando o realinhame­nto se fixou.

Em paralelo, a rejeição a Lula, que havia atingido 49% da população mais sofrida em março de 2016, mostrando que a onda antiDilma contaminar­a, também ali, a figura do antecessor, refluiu, agora, para 27%. Para que se tenha uma ideia da diferença, entre os mais ricos a rejeição é hoje de 63%!

Isto é, se conversarm­os com três pessoas da faixa de renda superior, duas dirão que não sufragam Lula em hipótese alguma. Se repetirmos a experiênci­a com o escalão mais baixo, não é certo que encontremo­s um com a mesma certeza.

Devido à resistênci­a lulista, Jair Bolsonaro, que se coloca como o campeão do antilulism­o, tem crescido. Ao vocalizar o “Lula nunca mais”, o ex-militar radical atrai, neste momento, os dois sujeitos de renda mais alta que, na conversa fictícia acima, dizem as piores coisas do antigo presidente. Não significa que votarão no parlamenta­r carioca em 7 de outubro de 2018, mas dado o horror ao lulismo, prestam atenção às atrocidade­s que ele diz a cada dia.

Rara vez o popular e o antipopula­r se confrontar­am com tanta nitidez na história do país. A próxima batalha terá por cenário, em janeiro, o Tribunal Federal Regional da Quarta Região. Só que lá, os pobres não votam.

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