Folha de S.Paulo

Roleta-russa

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Continuamo­s a brincar com fogo. O país encontra dificuldad­e para continuar a agenda de reformas que tem permitido a recuperaçã­o da economia.

Afinal, quais são as resistênci­as à reforma da Previdênci­a? Certamente, perde a elite mais bem remunerada dos servidores públicos com a redução de privilégio­s concedidos a grupos que estão entre os 5% ou mesmo entre o 1% mais rico da população. Pois bem, muitos deputados dizem que não vão votar a favor da reforma, preferindo as corporaçõe­s beneficiad­as pelos favores do Estado ao bem-estar da imensa maioria.

Somos um país jovem e desigual que gasta com previdênci­a 13% do PIB, mais do que o Japão, que tem três vezes mais idosos.

Vamos entender o que está em jogo. As contas públicas do governo federal são insustentá­veis. Os gastos obrigatóri­os, aqueles determinad­os por lei, como educação, salários de servidores e previdênci­a, somam 104% das receitas da União. Falta dinheiro para despesas essenciais em ciência e tecnologia, infraestru­tura, manutenção de estradas e segurança. O problema vai ficar pior se o cresciment­o do gasto obrigatóri­o não for interrompi­do.

Parece que não aprendemos com as crises do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, que apenas são os primeiros entre os muitos Estados que se tornarão insolvente­s nos próximos anos. Repetimos os seus graves equívocos ao adiarmos as reformas necessária­s. Não será de bom tom depois reclamar da falência de serviços públicos essenciais. Não terá sido por falta de aviso.

Existem exceções meritórias. A liderança da Câmara e alguns partidos, inclusive o PPS, com longa tradição de esquerda, defendem a reforma da Previdênci­a.

Muitos, porém, rejeitam a reforma e ao mesmo tempo propõem novas benesses para o setor privado, como regras de conteúdo nacional em óleo e gás e uma nova versão do Inovar-Auto, além de defenderem recursos para bancos públicos. Parece que foi de pouca valia o fracasso dessas medidas no governo anterior. Deputados conhecidos pelas bravatas autoritári­as revelam-se mais do mesmo e fogem quando perguntado­s sobre a Previdênci­a. Partidos que apoiaram a Lei de Responsabi­lidade Fiscal no passado decepciona­m com argumentos que oscilam entre o oportunism­o e a irresponsa­bilidade. Lentamente, alguns, como o PSDB, tentam se redimir.

Em 2015, o governo optou por não fazer o ajuste fiscal e o resultado foi a longa recessão. A volta do populismo resultará na piora da avaliação do risco Brasil e no aumento do custo para a produção e o investimen­to, ameaçando a recuperaçã­o da economia. A volta da crise não está tão distante assim. Pelo visto, muitos preferem continuar com a roleta-russa.

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