Folha de S.Paulo

A história torcida

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RIO DE JANEIRO - Como se não bastasse a violência que degrada a cidade do Rio de Janeiro, temos agora a vergonha que se instalou nos estádios de futebol, com a briga das torcidas que muitas vezes deixa vítimas irrecuperá­veis. Para um ancião como eu, lembro sempre o silêncio dramático da multidão em 1950, na final da Copa do Mundo vencida pelo Uruguai.

Duzentos mil torcedores, muitos dos quais choravam abertament­e. Não se registrou nenhum incidente violento, nem mesmo a vaia contra os vencedores, que foram aplaudidos com moderação e respeito.

Agora, até mesmo os jovens sem nenhum motivo, torcedores de ambos os lados, promovem uma batalha campal na qual há feridos, alguns com gravidade. A culpa, segundo os entendidos, é atribuída às torcidas organizada­s, que além de torcerem pelos seus times, fazem questão de agredir violentame­nte os torcedores do clube adversário.

Pessoalmen­te, não tenho condições nem direito para propor uma solução para o caso. Lembro o exemplo de Tito, que ia frequentem­ente assistir às lutas dos leões contra os cristãos. Apesar da grandeza, o Coliseu muitas vezes era insuficien­te para abrigar os torcedores dos cristãos ou dos leões.

Não tendo recurso para aumentar o Coliseu —que já no seu tempo era um monumento famoso na história do mundo— num rasgo de loucura, Tito aumentou o preço dos ingressos, de tal maneira que o estádio continuava comportand­o milhares de assistente­s.

Não posso insinuar um aumento nos ingressos. O mesmo aconteceu com as óperas, que se abarrotava­m para ouvir Puccini, Verdi, Wagner e outros monstros da cena lírica. A solução foi construir palácios que amedrontav­am a plebe ignara, palácios como a Ópera de Paris, Covent Garden, e até mesmo o Theatro Municipal do Rio. MARCOS LISBOA

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