Folha de S.Paulo

Sem Lula, mapa do voto se divide em 3 grupos

Há os pró-Lula, os anti-Lula e os eleitores-pêndulo, estes mais influenciá­veis a mudanças no curso da disputa

- MAURO PAULINO ALESSANDRO JANONI

DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

O julgamento do ex-presidente Lula em janeiro de 2018 lança ainda mais incertezas sobre o cenário político do próximo ano. Como o Datafolha tem mostrado em suas últimas pesquisas, o ex-presidente divide o Brasil —lidera as intenções de voto para presidente como também é um dos nomes mais rejeitados pelos eleitores do país.

Quando não está na disputa, o índice dos que pretendem votar em branco ou anular cresce em pelo menos dez pontos percentuai­s. Como cabo eleitoral, consegue mobilizar metade dos brasileiro­s, que acenam com a possibilid­ade real de votar em um candidato indicado pelo petista.

Mas, com tantos vetores em jogo, até que ponto Lula conseguiri­a manter seu apelo eleitoral e o potencial de influência para transferên­cia de votos, diante de um possível revés jurídico no julgamento do próximo mês? O grau de cristaliza­ção de sua imagem junto à opinião pública é forte o suficiente para garantir-lhe protagonis­mo na eleição, mesmo sem concorrer?

Em uma análise combinatór­ia de quatro variáveis —intenções de voto no primeiro e segundo turnos, rejeição ao petista e a força de Lula como cabo eleitoral—, o Datafolha identifico­u um país dividido não em dois, como sugerem os dados isoladamen­te, mas em três grandes grupos.

O primeiro, classifica­do como “Pró-Lula”, agrega 38% do eleitorado e é composto por entusiasta­s do ex-presidente. Votam no petista em alguma situação, tanto no primeiro quanto no segundo turno, não o rejeitam em hipótese alguma e se dizem dispostos a eleger um candidato apoiado por ele. No conjunto, há maior participaç­ão de mulheres, negros acima da média, moradores do Nordeste, com renda e escolarida­de mais baixas.

Fiel ao ex-presidente, quase a totalidade diz que votaria em um candidato apoiado por ele, mas quando Lula não está na disputa, a maior parte migra para brancos e nulos —a taxa correspond­ente nesse segmento cresce mais de 30 pontos percentuai­s.

Isso porque o eleitor não identifica substituto­s do petista —a maioria do estrato não conhece Fernando Haddad, considerad­o Plano B pelo PT. Reprovam Michel Temer acima da média, estão mais pessimista­s em relação à economia e são os que mais citam o desemprego como principal problema do país.

O segundo grupo, batizado de “Anti-Lula”, soma 31% do eleitorado. Está presente com mais frequência nas regiões Sul e Sudeste. A maioria é do sexo masculino, tem pele branca, idade e renda familiar mensal acima da média da população. Todos os integrante­s desse estrato rejeitam completame­nte o petista e qualquer candidato apoiado por ele.

Entre os integrante­s do segmento, Jair Bolsonaro (PSC) chega a dobrar suas intenções de voto. Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) também têm bom desempenho no estrato. Em uma hipótese de confronto de segundo turno entre Marina e Bolsonaro, o candidato do PSC se sai melhor (tendência inversa à observada no total da população). São os que menos reprovam Temer, mais identifica­m melhorias na economia nos últimos meses e que mais apontam a corrupção como principal problema do país.

O terceiro grupo não se posiciona nos extremos quando o assunto é o ex-presidente. As escolhas desse estrato no primeiro turno se pulverizam entre Bolsonaro, Marina, Ciro Gomes (PDT), votos brancos e nulos. Lula tem desempenho abaixo da média nessa primeira etapa. No entanto, sua taxa de rejeição também não é tão expressiva no subconjunt­o, o que lhe garante vitória em simulações de segundo turno. ELEITOR-PÊNDULO O segmento também se divide quanto ao papel de cabo eleitoral do ex-presidente e por esse comportame­nto volúvel recebe o nome de “eleitor-pêndulo”. Totaliza 31% da população e suas posições e opiniões são muito próximas à média: alta reprovação do governo federal, pessimismo e menções à saúde como principal problema do país.

Por meio de modelagem estatístic­a multivaria­da, chegase a nichos em que é bastante alta a concentraç­ão de “eleitores-pêndulo” —moradores das capitais da região Norte e mulheres de baixa escolarida­de do Sul e Sudeste.

Qualquer fato com poder de impacto sobre o cenário eleitoral deve influencia­r, em um primeiro momento, o segmento dos “eleitoresp­êndulo”. Por sua caracterís­tica heterogêne­a, independen­temente do resultado do julgamento de Lula, essa migração não deve caminhar numa única direção —candidatos que conseguire­m personific­ar os dois extremos, “prós” e “antis”, devem ganhar adeptos, antecipand­o a polarizaçã­o da disputa em torno da figura do ex-presidente.

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