O bunker de Temer derreteu
OUTRO LULA De quem conhece Lula há mais de 30 anos:
“Ele se tornou outra pessoa. Está ressentido e vingativo. Está, mas nunca se deve esquecer que ele se orgulha de ser uma metamorfose ambulante”. STF X TCU Como diria o ministro Gilmar Mendes, o Supremo Tribunal Federal tem um encontro marcado com o Tribunal de Contas da União para demarcar suas atribuições. “PRETINHO” FEDERAL Desde abril passado, quando o doutor Sérgio Côrtes, ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro, entregou-se à Polícia Federal vestindo uma camisa de malha preta parecida com os uniformes dos agentes, surgiu um estilo de moda.
É o “pretinho” da Federal. Aderiram a ela o deputado Jorge Picciani e, numa ocasião, o empresário Jacob Barata. EREMILDO, O IDIOTA Eremildo é um idiota e sempre votou em Sérgio Cabral, pois achava que o Rio precisava de um gestor modernizante.
No seu último depoimento ao juiz Marcelo Bretas, o magnífico Cabral disse que entesourou dinheiro pelo caixa 2, mas não menciona nomes, pois “isso implicaria citar companheiros meus, de lutas políticas”.
O cretino diz que nunca recebeu um tostão pelo que fez por Cabral. Se ele quiser, pode citá-lo, desde que deposite algum em sua conta. Serve até terno usado do Ermenegildo Zegna. ERRO Estava errada a informação publicada no último artigo do signatário, segundo a qual a GP investimentos participava da gestão da Universidade Estácio de Sá.
A GP comprou uma participação na Estácio em 2008 e desfezse dela em 2013. Desde então, nada tem a ver com a empresa.
Nenhum governo admite que pode perder uma votação no Congresso, mas, ainda assim, eles se diferenciam no grau de seriedade com que administram seus receios. Desde o início da tramitação da reforma da Previdência, o bunker do Palácio do Planalto, sob regência de Temer, com o ministros Moreira Franco na flauta, Eliseu Padilha no clarinete e Henrique Meirelles na tesouraria, seguiu em duas linhas. Primeiro dizia que o projeto, cheio de bodes, era intocável. Patranha, mas vá lá. Depois, inventou prazos. Até a tarde fatídica em que o país soube do grampo do Jaburu, o limite de 2017 parecia plausível. Depois do grampo, a prioridade do bunker passou a ser apenas a salvação do mandato de Temer.
Tudo acabou num episódio de pastelão, com o senador Romero Jucá dizendo que a votação estava adiada para o próximo ano, sendo imediatamente desmentido por uma nota do Planalto. No dia seguinte veio o reconhecimento de que o jogo está adiado para fevereiro.
Nesse clima de barata-voa, chegou-se até ao ardil de pedir ao empresariado que pressionasse os parlamentares. Temer, Moreira, Padilha e Meirelles sabem perfeitamente que, a esta altura, se um empresário ligar para seu deputado levará uma facada em nome da campanha do ano que vem.
A capacidade de mentir do Planalto é infinita, mas ela deve ser calibrada pelo risco de se perder crédito até mesmo quando se diz a verdade. O bunker violou essa norma. Se num dia ele diz que Jucá está errado e no outro informa que a saúde do presidente vai bem, obrigado, no que se pode acreditar?
A presepada pode alegrar a maioria dos brasileiros que não confia no governo, mas ela embute um perigo. O derretimento do bunker pela aritmética da falta de votos e pela má qualidade de suas lorotas arrisca expandir-se. A contaminação de um governo fraco e impopular num ano de sucessão presidencial radicalizada adiciona à confusão uma instabilidade perigosa e desnecessária. THE CROWN A segunda rodada da série “The Crown” manteve o padrão, um presente para o ócio das festas. A vida da família real inglesa continua a ser retratada com suas façanhas, fadigas e fofocas. O desempenho da atriz Claire Floy no papel de Elizabeth 2ª já valia a pena na primeira temporada e conseguiu melhorar. Ela envelhece e encorpa com grande categoria, inclusive no jeito esquisito de caminhar.
As coisas aconteciam num tempo em que era falta de educação falar da infidelidade da mulher de um primeiro-ministro (Harold McMillan) ou da bissexualidade do marido de princesa (Anthony Armstrong-Jones, Sr. Margaret). Está tudo lá, inclusive a desastrosa mediocridade do primeiro-ministro Anthony Eden, que tentou tomar o canal de Suez em 1956 e foi humilhado pelos Estados Unidos.
O capítulo fofoqueiro da relação de Elizabeth 2ª com Jacqueline Kennedy é um primor, ainda que um pouco exagerado. A ida do menino Charles para um colégio interno na Escócia é uma aula para qualquer pai que se mete a impor rigores na educação do filho. O sexagenário de hoje, que ainda não achou seu lugar na vida, nasceu ali. (A série conseguiu um menino com orelhas de abano para representá-lo.)
Essa segunda temporada termina estabelecendo uma conexão entre um escândalo de lençóis ocorrido em 1963, que à época era apenas murmurado. Ele girava em torno da linda modelo Christine Keeler, que morreu há duas semanas, aos 75 anos. O príncipe Philip, marido da rainha, está com 96, aposentado.
O congelamento da reforma acabou num pastelão que arrisca transformar o governo numa bagunça