Folha de S.Paulo

Proposta de semipresid­encialismo não deve avançar até as eleições

Congressis­tas veem com ceticismo possibilid­ade de novo modelo ser aprovado no próximo ano

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Ideia gestada por Temer e Gilmar prevê a criação de primeiro-ministro para cuidar das tarefas diárias do governo

A cúpula do Congresso vê com ceticismo o avanço da proposta de semipresid­encialismo gestada em reuniões entre o presidente Michel Temer e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.

Segundo auxiliares do presidente, as conversas entre ambos e os principais ministros do núcleo político do governo —Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil)— acontecem desde junho e, nas últimas semanas, receberam o acompanham­ento dos presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

A discussão fez ganhar corpo um texto inicial para uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que estabelece­ria um novo sistema político a partir das eleições de 2022.

Temer gosta da ideia de um sistema híbrido, como os modelos francês e português, com mais poder ao Congresso, a manutenção da figura de presidente da República como chefe de Estado, das Forças Armadas e da diplomacia, além da prerrogati­va de nomear e exonerar o primeiro-ministro, que seria o chefe de governo.

A proposta inicial segue esse modelo, no qual o Congresso pode ser dissolvido em momentos de grave crise.

Mas o projeto ainda não está fechado e, por ora, não há nenhum parlamenta­r escolhido para apresentá-lo.

Mesmo com as tratativas envolvendo o presidente da República e um ministro do Supremo, os chefes da Câmara e do Senado já sinalizara­m a dificuldad­e em fazer prosperar uma discussão dessa magnitude em ano eleitoral, quando deputados e senadores estão voltados às suas campanhas.

“Se for apresentad­o na Câmara, chegando ao Senado darei celeridade”, disse Eunício Oliveira.

“É um bom debate”, completou, sem dar detalhes so- bre prazos de votação.

A aliados Maia tem dito que o assunto é importante e precisa ser debatido, mas avalia que não há possibilid­ade de discuti-lo em 2018, com outros temas a serem tratados no Congresso, como a reforma da Previdênci­a.

Para que uma PEC seja apresentad­a, é preciso reunir ao menos 171 assinatura­s e debatê-la na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) e, somente depois disso, ser aprovada em dois turnos pela Câmara e pelo Senado.

Entre deputados e senadores, há consenso de que a proposta precisa ser aprovada dentro de uma reforma política mais ampla, quando o sistema partidário for reduzido, se possível, a menos de dez siglas.

O pessimismo dos deputados tem eco entre os senadores, que não acreditam no aval do Congresso para um novo regime político em um período tão breve.

Para o líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), por exemplo, não há “nenhuma” possibilid­ade de o projeto caminhar em ano eleitoral.

Os defensores da mudança, porém, afirmam que o novo sistema não seria estabeleci­do para o próximo mandato presidenci­al.

Já o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), disse que a proposta “não passa” e que seu partido, aliado ao governo Temer, não apoia a mudança.

O senador Agripino Maia, presidente do DEM e aliado do presidente da Câmara, diz que o semipresid­encialismo “não existe em canto nenhum” e que só serve para “dividir as responsabi­lidades do Executivo com o Parlamento em casos como a reforma da Previdênci­a”.

 ?? Pedro Ladeira - 12.mai.2016/Folhapress ?? Gilmar Mendes e Michel Temer, entusiasta­s do modelo
Pedro Ladeira - 12.mai.2016/Folhapress Gilmar Mendes e Michel Temer, entusiasta­s do modelo

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