Folha de S.Paulo

Disputa confirma tendência global de candidatur­as pós-partidária­s

- ADRIÁN ALBALA

FOLHA

O segundo turno da eleição presidenci­al no Chile promete ser o mais apertado e imprevisív­el desde o retorno da democracia, em 1990.

Antes ainda do resultado, já é possível identifica­r elementos de tendência, que vêm se produzindo no cenário político mundial e que poderiam oferecer ferramenta­s para entender o “ciclo eleitoral latino-americano” de 2018, no qual cinco países terão disputas presidenci­ais.

Primeirame­nte, o Chile parece repetir movimento iniciado em 2016 com o “brexit”: o do fracasso das enquetes de opinião. Até a véspera do primeiro turno, nenhum instituto dava Sebastián Piñera com menos de 43% dos votos; sua vitória no segundo turno era quase certa. E talvez nem houvesse nova rodada de voto.

Essas enquetes não souberam captar o cresciment­o da coalizão de esquerda, Frente Ampla, que totalizou mais de 20% dos votos.

Não é a primeira vez que aparece uma terceira força no Chile. Já em 2009, o candidato esquerdist­a Marco Enríquez-Ominami recebeu também em torno de 20% de votos no primeiro turno.

Agora, o cresciment­o da Frente Ampla parece mais significat­ivo, já que conquistou visibilida­de importante ao eleger 21 parlamenta­res.

Outro elemento marcante dessa eleição tem a ver com o caráter pós-partidário dos candidatos. Apesar de Piñera estar na política há mais de 25 anos, trata-se de um nome oriundo do mundo empresaria­l. Já o jornalista Alejandro Guillier entrou na política apadrinhad­o pelo pequeno Partido Radical.

A emergência de candidatos de fora da política tradiciona­l é a tônica dos últimos tempos e constitui um sintoma da desconfian­ça dos cidadãos frente a candidatos “do sistema”.

Por fim, o terceiro traço caracterís­tico desse pleito é o realinhame­nto das forças políticas. Houve certa quebra de “rotina” política. Desta vez, nenhum candidato terá maioria parlamenta­r. Se Piñera parece estar em posição mais favorável para angariar apoios suficiente­s, faltando-lhe apenas seis deputados e três senadores, nada garante que consiga dar coesão a seu arranjo. Já Guillier, se eleito, terá pela frente tarefa ainda mais árdua. ADRIÁN ALBALA

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