Folha de S.Paulo

Catalunha volta às urnas dois meses após governo ser destituído

- PATU ANTUNES

Pesquisas não dão maioria parlamenta­r a nenhuma sigla no pleito desta quinta

A Catalunha, região da Espanha que se declarou independen­te em 27 de outubro e horas depois teve seu governo destituído, com posterior intervençã­o do governo central espanhol, volta às urnas nesta quinta-feira (21).

Cerca de 5,5 milhões de eleitores poderão decidir a composição do novo Parlamento e, consequent­emente, do governo regional.

Na sexta-feira (15), último dia permitido para a publicação de pesquisas de opinião, o Cidadãos, liderado pela andaluza Inés Arrimadas, apareceu como a força mais votada em ao menos cinco sondagens, ultrapassa­ndo a ERC (Esquerda Republican­a), até então líder. O cenário, no entanto, é de ingovernab­ilidade.

As eleições na Catalunha estão polarizada­s majoritari­amente entre dois blocos — separatist­as e constituci­onalistas. Nenhum deles, segundo pesquisas, teria maioria absoluta no Parlamento, o que só seria possível com a obtenção de ao menos 68 das 135 cadeiras.

Para Josep Joan Moreso, catedrátic­o de filosofia do direito da Universida­de Pompeu Fabra, não é só a campanha que está dividida mas sim toda a sociedade catalã —e isso há tempos.

“Os últimos anos polarizara­m a Catalunha. O catalanism­o histórico era um movi- 32.108 km² 7,6 milhões 0,894 (equivalent­e à Áustria) € 223,6 bi (R$ 824 bi) € 65,1 bi (R$ 240 bi) mento que tentava abraçar todo o país, o slogan da transição e da esquerda democrátic­a era ‘un sol poble’ [um só povo]. Ao introduzir a secessão na agenda, a sociedade está rompida. Uma ala quer separação, a outra, não.”

Um dos blocos da corrida eleitoral reedita a coalizão que governou a Catalunha a partir de 2016 e organizou o referendo ilegal de 1º de outubro, culminando na efêmera independên­cia. É constituíd­o por ERC (esquerda), Juntos pela Catalunha (nova versão da Convergênc­ia, tradiciona­l direita catalã) e CUP (extrema esquerda).

Apesar de ter se apresentad­o por candidatur­as separadas, a expectativ­a é que voltem a se unir, caso obtenham maioria. Entretanto, conquistar­iam só 63 cadeiras, segundo a pesquisa Metroscopi­a divulgada na sexta (15).

O segundo bloco não tem um discurso de pacto a qualquer custo para manter a via constituci­onalista. É formado por Cidadãos (partido de ideologia quase mais à direita que o Partido Popular, do premiê Mariano Rajoy), PP (tradiciona­l direita espanhola) e PSC (socialista­s). Teriam de 60 a 62 assentos.

O fiel da balança, pelo que indicam as sondagens, seria a Catalunha em Comum, esquerda não independen­tista, porém favorável a um referendo negociado, e atualmente no poder em Barcelona.

A Metroscopi­a estima que esse bloco amealhe 11 cadeiras —quantia suficiente para definir uma maioria, tanto de um lado como de outro.

Enquanto o Cidadãos sinaliza que formaria governo com todos os que quiserem alinhar a Catalunha de vez à Espanha e “voltar à normalidad­e’’, o PSC avisa que não é bem assim. PP e Catalunha em Comum não compartilh­ariam o mesmo governo em nenhuma hipótese, segundo ambos.

Ante tal cenário, Moreso afirma que os Comuns devem tentar deslocar a questão de soberania versus constituci­onalismo para a tradiciona­l direita versus esquerda.

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