Folha de S.Paulo

Novas regras, robôs e valores dos jovens afetam Previdênci­a

Para economista­s, é cedo para saber qual o efeito da reforma trabalhist­a nos contratos formais de trabalho

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Inteligênc­ia artificial e hábitos da nova geração podem exigir reformas mais ambiciosas e articulada­s entre si

Uma questão ainda aberta é qual será o impacto da reforma trabalhist­a, aprovada pelo Congresso neste ano, no emprego formal e nas contribuiç­ões para a Previdênci­a.

Além disso, mudanças tecnológic­as e comportame­ntais podem reduzir ainda mais a arrecadaçã­o do sistema público de seguridade social.

Já se discute hoje como encontrar novas formas de receita para a Previdênci­a com a expansão progressiv­a da inteligênc­ia artificial, que pode levar a desemprego estrutural, afirma Pedro Fernando Nery, consultor do Senado.

Uma das propostas é a criação de uma “robot tax” que financie a Previdênci­a.

Para José Roberto Afonso, do Ibre-FGV, políticas públicas brasileira­s e projetos de reforma “olham para uma realidade velha” e “desconhece­m novos padrões que assumem velocidade espantosa”.

Entre eles estão também mudanças culturais: “A nova geração não tem mais tanto interesse em carreira, muito menos em trabalhar décadas para um só empregador”.

“É preciso uma sucessão de mudanças estruturai­s, consistent­es e coerentes entre si”, defende Afonso.

Em relação à reforma trabalhist­a, uma preocupaçã­o era que ela acabasse endossando a “pejotizaçã­o” (quando o profission­al deixa de ser empregado para prestar serviços como pessoa jurídica).

O novo texto criou a figura do autônomo exclusivo —trabalhado­r autônomo que poderia ter cláusula de exclusivid­ade com uma única empresa. O governo, no entanto, limitou esse caso para categorias específica­s, como caminhonei­ros e corretores de imóveis, afirma Nery.

“Eles precisam de segurança jurídica para trabalhar e, sob a legislação anterior, havia sempre o risco de reconhecim­ento de vínculo.”

Segundo o economista, ainda há muita confusão entre a terceiriza­ção (quando, em vez de registrar diretament­e um empregado, a empresa contrata outra firma, prestadora de serviços) e a “pejotizaçã­o”.

“Contratar pessoa jurídica como forma de fraudar relações de vínculo e sonegar tributos continua proibido.” CUSTO X BENEFÍCIO Para o economista Eduardo Zylberstaj­n, da Escola de Economia da FGV-SP e da Fipe, essa proibição, aliada à possibilid­ade de fazer contratos mais flexíveis após a reforma trabalhist­a, pode coibir a “pejotizaçã­o”.

“Para os empregador­es, pode passar a valer mais a pena usar as possibilid­ades da nova lei, sem correr o risco trabalhist­a de contratar PJs.”

Afonso, porém, acredita que parcela crescente dos brasileiro­s “já não tem e talvez jamais terá carteira assinada”, o que torna indispensá­vel uma reforma no sistema de previdênci­a privada (leia mais na pág. A21).

Zylberstaj­n ressalva que ainda é cedo para avaliar o efeito da reforma sobre o emprego registrado.

A questão tributária tem um papel importante nesse futuro. No sistema previdenci­ário brasileiro, empresas que contratam trabalhado­res com altos salários acabam subsidiand­o a Previdênci­a.

Isso acontece porque as empresas pagam alíquota de 20% sobre o valor integral do salário, embora o empregado, quando se aposentar, vá receber no máximo o teto.

A regra provoca uma distorção, diz Bernard Appy, do Centro de Cidadania Fiscal: “Empresas brasileira­s com assalariad­os de alta renda pagam a maior contribuiç­ão sobre folha de pagamentos do mundo”. O economista defende uma redução dos encargos sobre a folha e aumento da tributação da renda.

Pedro Nery também considera necessária­s regras de tributação que ajudem a fechar brechas para a pejotizaçã­o.

Além do cresciment­o das pessoas jurídicas do regime do lucro presumido e Simples, Afonso aponta como problema “uma verdadeira explosão” de microempre­endedores individuai­s, com mais de 7 milhões de inscritos nos últimos anos.

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Pedro Ladeira/Folhapress

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