Folha de S.Paulo

Apagão de exames em laboratóri­o trava viagem de pets para a Europa

Única unidade no país capacitada anuncia suspensão do serviço e indica Chile como alternativ­a

- GUILHERME SETO

Prefeitura de São Paulo e governo federal vivem impasse sobre produção de substância necessária para realizar os exames

O gato Tigrão, 16, morador do bairro da Bela Vista, em São Paulo, está de malas prontas. No entanto, a sua mudança para Portugal sofreu um revés e o cronograma virou um ponto de interrogaç­ão.

A Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ) de São Paulo publicou um comunicado no qual anuncia a suspensão do exame de sorologia para raiva, exigido pelos países da União Europeia para que um animal de companhia possa entrar no território.

De acordo com o comunicado, o recebiment­o de amostras de sangue de ‘pets’ só acontecerá até o dia 29 de dezembro. A partir daí começa o período de suspensão, “sem previsão de retorno.”

Com a interrupçã­o iminente, a DVZ tem sugerido que os interessad­os procurem o Instituto de Saúde Pública do Chile, o único outro local na América do Sul credenciad­o para realizar o exame —que serve, basicament­e, para testar se a vacina de raiva está ativa no corpo do animal.

Outros laboratóri­os que realizam o exame estão nos Estados Unidos, no México, no Japão, e em outros países distantes do Brasil.

Segundo a Folha apurou, esse apagão não será resolvido facilmente, e envolve o Ministério da Agricultur­a do governo Michel Temer (PMDB).

O ministério fornece uma substância utilizada para a realização dos exames. No entanto, diante do contingenc­iamento de verbas, decidiu que não está em sua lista de prioridade­s a produção dessa substância. Ciente desse cenário, a DVZ decidiu comunicar a suspensão.

Na avaliação do ministério, o Brasil não deveria arcar com os custos de produção do conjugado para satisfazer exigências de outros países.

Mais de 10 mil exames do tipo são feitos por ano pela DVZ. O estoque atual de insumos dá conta de mil exames até o final de dezembro. TIGRÃO A jornalista Cláudia Rolim, 50, que dividirá uma casa com Tigrão, no Porto, vinha agendando os procedimen­tos necessário­s para viajar com seu gato, mas parou tudo diante do comunicado.

“Se não tivesse acontecido tudo isso, eu já teria colocado o microchip e dado a vacina de raiva no Tigrão. Mas assim que eu recebi o comunicado, parei, já que não sei quanto tempo a vacina dura e nem quando vou conseguir que façam a sorologia”, explica.

O microchip com a identifica­ção é o primeiro requisito para transporta­r pets internacio­nalmente. No caso da Europa, também é necessária a vacina de raiva e, 30 dias depois, o exame de sorologia.

No Brasil, o exame de sorologia custa R$ 321. Segundo o último levantamen­to da DVZ, os valores internacio­nais estão na mesma faixa.

Estimativa feita no site dos Correios indicou valores acima dos R$ 400 para enviar amostras para o Chile, incluindo Sedex (já que não pode passar de dez dias o período entre a coleta e o exame) e caixas para acondicion­amento.

Cláudia cogita se mudar sem o companheir­o e voltar para o Brasil depois, com os exames feitos, para buscá-lo.

Rosane de Oliveira, diretora da DVZ, diz que a divulgação foi precipitad­a e que o comunicado foi tirado do ar. Segundo ela, há tratativas com o governo federal e a suspensão pode ser revogada.

Em nota, o Ministério da Agricultur­a afirma que “não há problemas técnicos na produção do conjugado” e que que a medida foi adotada para direcionar os “escassos recursos públicos”a “atividades estratégic­as para a Defesa Agropecuár­ia Nacional, como o combate a enfermidad­es de alto impacto para a economia brasileira.”

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Avener Prado/Folhapres O gato Tigrão e a jornalista Cláudia Rolim querem viajar para Portugal

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