Folha de S.Paulo

Propaganda enganosa

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QUANDO VOCÊ não conta para ninguém o que realizou, suas conquistas permanecem desconheci­das. Por isso, todo profission­al deve divulgar seu trabalho —para colegas, chefes, clientes e quem mais interessar. Assim, eles poderão conhecer melhor suas habilidade­s e competênci­as e devem se lembrar de você sempre que surgir uma oportunida­de.

Porém, o que tenho visto nas empresas infelizmen­te não é um marketing pessoal sincero, em que a pessoa divulga seus bons resultados para sua rede de contatos. O que tenho notado com frequência é um marketing pessoal exagerado e, muitas vezes, até mentiroso.

As pessoas torcem os números para que os resultados apontem a seu favor, criam análises sem conexão com a realidade para que a situação pareça melhor do é, vangloriam-se de realizar tarefas básicas, que não representa­m nada além do esperado para sua função.

Pode-se dizer que grande parte desse comportame­nto se deve à inseguranç­a dos funcionári­os. Com a crise, o desempenho das empresas piorou, e a pressão sobre os empregados aumentou.

As pessoas estão com medo de perder o trabalho e fazem de tudo para parecer que sua performanc­e está melhor do que realmente é.

Porém, embora seja possível enxergar as razões que levam as pessoas a agirem desse jeito, é preciso lembrar que esse comportame­nto é antiético e não inspira confiança.

Em um primeiro momento, é provável que esse marketing pessoal falso surta efeito. O profission­al conseguirá impression­ar chefes ou clientes mais desatentos. Mas isso não se sustenta ao longo do tempo. Em algum momento, a máscara cai.

Até que a hora da verdade chegue, é possível que o funcionári­o tenha ganho um tempo precioso. Porém, quando os outros percebem a enganação, ele se queima de vez. Será que vale a pena agir assim?

Eu tenho certeza que não. A melhor coisa a fazer para construir uma carreira sólida e respeitáve­l é ser honesto, reconhecer seus próprios erros e pedir ajuda quando não conseguir encontrar uma forma de alcançar os resultados esperados.

Assim, você terá a confiança dos outros e ganhará créditos para usar em momentos difíceis. E, quando realizar um bom trabalho, talvez nem precise se preocupar em divulgá-lo: o reconhecim­ento virá dos outros e funcionará como a melhor propaganda possível. Ser elogiado vale mil vezes mais do que qualquer autoelogio.

Não há nada errado em fazer marketing pessoal, contanto que seja sincero e propague conquistas reais

EDUARDO SODRÉ escreve na próxima edição

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