Folha de S.Paulo

O tropeço de Paulo Autran

Rio de Janeiro, 1998

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pontas dos pés, de perucas brancas e cacheadas, e encontrei um colega, sem realeza nem pompa.

Eu tinha 20 e poucos anos e certezas demais. Não sabia que Paulo Autran havia sido forjado no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), primeira companhia profission­al no Brasil. Ele sabia tudo sobre a dinâmica das companhias e eu, na minha juventude, queria acreditar que aquilo tudo era novo, era nosso, era nossa invenção. Um erro doce. Quase 20 anos depois, as companhias teatrais foram meu assunto preferido no documentár­io “Paulo Autran - O Senhor dos Palcos”.

No corte final de um documentár­io, muita coisa fica de fora. Acho que consegui transmitir o que mais interessav­a, mas um assunto me doeu mais do que os outros por não ter entrado no filme: a relação de Paulo com Ziembinski.

Zbigniew Ziembinski nasceu na Polônia e veio para o Brasil fugindo da Segunda Guerra. Foi um dos fundadores do teatro moderno brasileiro e um dos diretores mais importante­s do TBC, onde também atuava. Paulo Autran, como ator, era a grande estrela masculina da companhia. E os dois não se davam. Mas não se davam mesmo.

Paulo sempre foi muito político e cuidadoso em suas entrevista­s, não falava mal de ninguém —no máximo, ironizava situações com seu humor privilegia­do. Mas quando o assunto era Ziembinski, não tinha pudores em descascar o colega, sempre com muita graça.

Segundo Paulo, Zimba era um diretor absolutame­nte ditatorial, que

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