Folha de S.Paulo

Nova regra para debates beneficia Bolsonaro

Reforma política cortou pela metade, de 10 para 5, mínimo de congressis­tas exigidos para incluir partidos nanicos

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R

Patriota, sigla que filia em março o deputado, deverá atingir a cota; Rede de Marina Silva precisa evitar sangria

Pode o segundo candidato mais bem colocado nas pesquisas ficar de fora dos debates com presidenci­áveis?

Até outubro, tudo indicava que sim. Jair Bolsonaro aparece em sua melhor forma eleitoral em Datafolha de dezembro: isolado em segundo lugar, com até 22% das intenções de voto para 2018. Suas chances de participar dos confrontos television­ados, contudo, eram tão nanicas quanto o Patriota, provável nova morada partidária do hoje deputado pelo PSC.

Mas tinha uma reforma política no meio do caminho. E ela pode beneficiar legendas como o Patriota —que tem três deputados (a menor bancada da Câmara). Precisaria de mais que o triplo disso (10) para garantir a presença de seu postulante ao Planalto nos debates, quorum estabeleci­do pelo Congresso em microrrefo­rma eleitoral de 2015.

Sancionado por Michel Temer há dois meses, o texto que remodela o processo eleitoral diminui de dez para cinco o número mínimo de congressis­tas exigidos para uma sigla emplacar seu candidato nas pelejas televisiva­s —que costumam turbinar a audiência das emissoras na campanha.

A que a Globo transmitiu no primeiro turno de 2014 teve média de 20,9 pontos (cada ponto correspond­ia a 65 mil domicílios na Grande SP).

Tamanha exposição se agiganta num pleito em que dois fortes concorrent­es, Marina e Bolsonaro, têm 12 e 10 segundos no bloco de 12 minutos e 30 segundos da propaganda —isso se não aliciarem outras legendas para suas chapas —, menos de um décimo do que teriam o PT de Lula e o PSDB de Geraldo Alckmin.

Até 2014, as normas eram ainda mais suaves. Só se demandava um parlamenta­r por sigla, o que na prática só prejudicav­a quem tinha zero representa­tividade, como o PSDC de José Maria Eymael.

Outra facilitaçã­o: a nova lei agora fala em “representa­ntes no Congresso Nacional”, ou seja, vale somar não só deputados, mas também senadores. Graças à nova regra, a Rede de Marina Silva atingiria a meta: tem quatro na Câmara e Randolfe Rodrigues no Senado.

Só que tudo pode mudar em março, mês da chamada “janela partidária” —quando o parlamenta­r pode trocar de partido sem ser punido com a perda de seu mandato.

É nesse troca-troca que a Rede pode sair perdendo. A sigla trabalha para dilatar seu quadro, só que pode precisar conter sangria interna. A Folha apurou que dois de seus quatro deputados, Alessandro Molon e Aliel Machado, cogitam deixar a legenda.

O horizonte do Patriota é mais generoso. Só a ida de Bolsonaro e seu filho Eduardo, também deputado, já fecham o número mágico de cinco congressis­tas. E a filiação da família “promete atrair uma leva de políticos”, diz Adilson Barroso, ex-PSC que hoje preside o Patriota —fundado como Partido Ecológico Nacional e em processo de mudar o nome. TRAUMA Caso convença Guilherme Boulos a se candidatar, o PSOL e seus seis deputados lhe garantem espaço nos debates. O partido tem um trauma recente nesse departamen­to.

Marcelo Freixo era o segundo colocado na eleição municipal carioca de 2016, mas seu partido não tinha a cota parlamenta­r demandada. Até havia uma brecha: a lei abria exceções se dois terços dos candidatos garantidos no duelo concordass­em. Não rolou.

No dia do debate da Band, Freixo promoveu conversa paralela na Cinelândia, transmitid­a pela internet. No fim, acha que saiu no lucro, diz o psolista, de volta à Assembleia do Rio. “A audiência nas redes sociais foi maior que toda [a da emissora]. E os meios de comunicaçã­o, inclusive a Band, cobriram meu debate.”

Diogo Rais, professor de direito eleitoral na Mackenzie, lembra que em 2016, já após o debate que excluiu Freixo, o Supremo Tribunal Federal determinou que as emissoras não precisam de aval de concorrent­es para chamar siglas pequenas. “O que por lei são obrigadas agora é convidar quem tiver os cinco representa­ntes.”

Para Freixo, “não é inteligent­e vetar” candidatos expressivo­s. “É como Voltaire diz: posso discordar do que fala, mas defendo até a morte o direito de fazê-lo.”

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