CRÍTICA Psicologismo rasteiro anula beleza em drama
Fotografia esmerada é soterrada por desarmonia narrativa e emocional em ‘O Poder e o Impossível’, de Scott Waugh
O drama “O Poder e o Impossível” consiste de duas narrativas que correm paralelas. Para a infelicidade do espectador, a segunda (e pior) engole a primeira.
A precedente acompanha Eric LeMarque (Josh Hartnett) quando jovem. Suas obsessões são o snowboard (esporte com manobras radicais na neve) e a cocaína, nem sempre nesta ordem.
Durante um fim de semana em uma estação de esqui na imponente High Sierra, nos Estados Unidos, o rapaz decide se arriscar por uma rota proibida e, depois de uma tempestade, acaba isolado.
Não bastassem a fome e o frio, LeMarque tem a perna machucada.
A saga do personagem pela sobrevivência —baseada em episódios verídicos— é apresentada de modo correto. À primeira vista, estamos diante de um passatempo despretensioso.
Contribuem para essa primeira narrativa as belas imagens das montanhas da Califórnia e a atuação convincente de Hartnett, ator de filmes como “A Dália Negra” (2006) e “Cavalos Selvagens” (2016).
No entanto, “O Poder e o Impossível” afunda como as botas de LeMarque na neve espessa quando a segunda ruim regular narrativa ganha corpo.
É quando o filme passa a se dedicar a uma sucessão de flashbacks que tentam mostrar como o garoto LeMarque havia sido prejudicado pelo rigor competitivo do pai, um treinador de hóquei no gelo que gosta de distribuir frases de efeito.
O contraponto familiar, vejam só, é a docilidade quase patética da mãe, interpretada por Mira Sorvino, de “Poderosa Afrodite” (1995).
Ex-dublê, o diretor Scott Waugh poderia se restringir ao que sabe fazer: cenas de ação e registros da natureza.
Mas ele se entrega ao psicologismo rasteiro, enquadrando qualquer atitude do protagonista a relações de causa e efeito. Em sua composição, o passado sempre justifica o presente.
Além disso, Waugh faz tentativas canhestras de evocar a espiritualidade.
Daí em diante, como no esportivo snowboard, “O Poder e o Impossível” segue ladeira abaixo. (6 BELOW: MIRACLE ON THE MOUNTAIN) DIREÇÃO Scott Waugh ELENCO Josh Hartnett, Mira Sorvino, Sarah Dumont, Kale Culley PRODUÇÃO Estados Unidos, 2017, 102 min., 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ruim