Folha de S.Paulo

Barroso decide enviar inquérito à 1ª instância

Ministro cita maioria formada contra foro privilegia­do, mas votação não foi concluída

- REYNALDO TUROLLO JR.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso remeteu para a primeira instância um inquérito sobre o deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), suspeito de irregulari­dades quando era vereador em Natal (RN) em 2005 e 2006.

A decisão de Barroso, desta terça (19), tem como base o entendimen­to da maioria do plenário do STF que votou, em novembro, pela restrição do alcance do foro privilegia­do concedido a deputados federais e senadores.

Na ocasião, oito ministros votaram em uma proposta do próprio Barroso de limitar o foro privilegia­do a casos de crimes cometidos no cargo e em razão do cargo. O julgamento, no entanto, não ter- minou, porque Dias Toffoli pediu vista (mais tempo para analisar o assunto).

Como Marinho é investigad­o por supostos crimes cometidos quando era presidente da Câmara de Natal —como despesas não justificad­as no valor de R$ 3,8 milhões e pagamento ilegítimo de reajuste a servidores—, Barroso determinou o envio do caso, do qual era relator, para a 8ª Vara Criminal de Natal.

No despacho desta terça, o ministro escreveu que, apesar de o julgamento sobre o foro não ter terminado, “não parece provável, considerad­a a maioria já formada, que sua conclusão se dê em sentido oposto ao já delineado”.

A restrição do foro privilegia­do, para Barroso, resolve problemas para o STF, como “a politizaçã­o indevida da corte, a criação de tensões com o Congresso Nacional e o desprestíg­io junto à sociedade”

Barroso também criticou, na decisão, o modelo vigente, com idas e vindas entre diferentes instâncias da Justiça, a depender da situação momentânea do investigad­o.

“O caso concreto aqui examinado bem retrata a disfuncion­alidade do sistema: o processo já tramitou em quatro jurisdiçõe­s: no Supremo Tribunal Federal, no Tribunal de Justiça do Estado, na primeira instância da Justiça estadual e encontra-se de volta ao STF [desde que Marinho se elegeu, em 2014]. Não há adjetivos suficiente­s para qualificar o absurdo desse modelo, que causa indignação na sociedade e traz desprestíg­io para o Supremo.”

O ministro, que tem protagoniz­ado embates com seu colega Gilmar Mendes, escre- veu que a restrição ao foro privilegia­do “não resolve o problema da impunidade”. Mas disse que é necessário enfrentar “um sistema processual penal obsoleto, baseado no oficialism­o e na cultura da procrastin­ação”. OUTRO LADO Em nota, Rogério Marinho afirmou que é o maior interessad­o na investigaç­ão, “para que não pairem dúvidas quanto à legalidade e à regularida­de” de seus atos.

“O envio do inquérito para a primeira instância não me causa prejuízo ou indignação, ao contrário, enseja que as alegações, relacionad­as a fatos que ocorreram há mais de dez anos e que sequer foram objeto de denúncia, sejam esclarecid­as com celeridade e equilíbrio, culminando no seu arquivamen­to.”

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Pedro Ladeira - 25.abr.2017/Folhapress O deputado Rogério Marinho (PSDB), alvo de inquérito

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